Neste fim de semana, a cantora Maraisa, da dupla Maiara & Maraisa, se viu no centro de uma polêmica. Ela divulgou nas redes sociais a música Borderline, cuja letra fala de uma mulher que precisa sair de um relacionamento abusivo. A intenção parecia ser de alerta e apoio, mas o efeito foi o contrário: muitos fãs, principalmente aqueles que convivem com o Transtorno de Personalidade Borderline (TPB), se sentiram desrespeitados.

As críticas não demoraram a tomar conta do X (antigo Twitter) e de outras plataformas. Pessoas que têm o transtorno relataram sentir que sua dor foi reduzida a um estereótipo de “pessoa problemática” em relacionamentos. A repercussão negativa foi tão forte que Maraisa apagou o vídeo onde cantava a música de seu perfil no Instagram. Procurada pela revista Marie Claire, ela informou que não irá se pronunciar sobre o caso.
Mas afinal, o que é borderline?
O Transtorno de Personalidade Borderline é uma condição psiquiátrica real, grave e extremamente desafiadora. Quem vive com borderline lida com emoções muito intensas e instáveis, que mudam rapidamente. Existe um medo profundo de ser abandonado, mesmo em situações normais, além de dificuldades em manter relacionamentos saudáveis, impulsividade, crises de raiva, sentimentos de vazio e, em casos mais severos, episódios de automutilação ou pensamentos suicidas.
Borderline não é uma questão de “drama” ou “falta de força de vontade”. É um transtorno que envolve fatores genéticos, traumas na infância e alterações em áreas específicas do cérebro ligadas à regulação emocional. Não é algo que se escolhe viver — e, com tratamento adequado, é possível ter uma vida estável, saudável e feliz.
O problema da música Borderline não está em querer alertar sobre relações abusivas — esse é, sim, um assunto importante. O erro foi usar o nome de um transtorno psiquiátrico, que carrega um peso enorme, de forma pouco responsável e sem explicar seu verdadeiro significado.
Isso reforça o estigma de que quem tem borderline seria necessariamente uma pessoa tóxica ou instável demais para amar, o que não é verdade.
Muitas pessoas com TPB são empáticas, carinhosas, inteligentes e batalham todos os dias para viver melhor, apesar das dificuldades internas. Reduzir essa luta a um rótulo negativo machuca e afasta ainda mais essas pessoas do acolhimento que elas precisam.
O caso de Maraisa serve de alerta: saúde mental não é tema para ser usado sem reflexão.
Quando artistas e influenciadores falam sobre transtornos psicológicos, é essencial que façam isso com respeito, responsabilidade e, principalmente, com informação correta.
Afinal, uma música pode emocionar, pode alertar — mas também pode ferir se tratar dor real como entretenimento.
Informação salva. Estigma adoece.
Fontes:
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Revista Marie Claire — Matéria: “Música de Maraisa que relaciona Borderline com relação abusiva é criticada por fãs”
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Wikipedia — Artigo: Borderline Personality Disorder
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Manual MSD — Artigo: Transtorno de Personalidade Borderline
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National Institute of Mental Health (NIMH) — Informações sobre Borderline: Borderline Personality Disorder