De segunda a sexta-feira, a rotina do estudante Ander Fábio Corrêa começa ao sair de casa bem cedinho, no bairro Conceição. Nessa primeira parada, o destino dele é o bairro Vila Tupi. É neste local que se encontra o ponto de ônibus mais viável para embarcar no ônibus do (campus-Unir), coletivo responsável por levar os estudantes até a Universidade Federal de Rondônia, localizada na BR-364, km 9,5, setor rural de Porto Velho. Só que, neste intervalo, que já dura quase sete anos – tendo em vista que o estudante vivenciou o cenário da pandemia e da greve dos professores no início de 2024 –, o aluno de 38 anos já sofreu alguns problemas de saúde.
“Não é fácil. Quando se é mais novo, a gente vai levando, mas quando os problemas de saúde aparecem, começamos a questionar as coisas e a pensar: por que até hoje não existe uma linha de ônibus do campus que passe pela Jatuarana?”
A solicitação por parte do discente também ecoa como uma voz que se multiplica entre os demais pares e até mesmo entre as pessoas que trabalham na Vila Princesa. Hoje, o servidor que a reportagem entrevistou, mas que preferiu não se identificar, tem 60 anos. Ele faz o mesmo trajeto dos estudantes da Unir de segunda a sexta-feira há décadas. Pelo mesmo motivo, o servidor diz que acaba sendo penalizado.
“Hoje os ônibus estão melhores, mas antes era uma dureza. A empresa poderia, sim, pensar nessa possibilidade. Aliás, não sei por que ninguém nunca tentou colocar uma linha do campus que passasse pela Avenida Jatuarana”, indaga.
E quem sente a realidade na pele, ou melhor, nos pés (já que a caminhada é longa até o ponto de ônibus), pede que a Prefeitura de Porto Velho encontre uma solução juntamente com a Secretaria Municipal de Trânsito (Semtran), abraçando a reivindicação dos estudantes que moram na zona sul e precisam se deslocar para outra região a fim de pegar o coletivo campus-Unir.
“Se a prefeitura atender a essa reivindicação, tenho certeza de que vai ajudar bastante a vida dos sofridos estudantes da Unir, já que muitos deles são alunos e vivem nessa parte da cidade. A linha de ônibus do campus poderia ser dividida da seguinte forma: campus-centro ou campus-Via Jatuarana, para que quem se dirigisse a essa parte da cidade já saísse da Unir em seu ônibus específico”, sugere o estudante Ander.
Outro problema enfrentado pelos estudantes é o ponto de ônibus distante do local onde o (campus-Unir) desembarca os alunos no retorno para a área urbana. Quem fica na zona sul precisa percorrer quase 400 metros da rodovia até a metade do trecho da Avenida Campos Sales. Todos seguem o mesmo trajeto para poder embarcar nos ônibus que param apenas no ponto após o Colégio Classe A.
“A vida de estudante não é fácil, e quando se é estudante da Unir complica ainda mais. Estou com o braço na tipóia, sabe por quê? Fui correr para pegar o ônibus que faz a linha Cohab e acabei caindo nessa calçada desnivelada do condomínio da Eletronorte”, lamenta o estudante Afonso.
Em um dia chuvoso do mês de fevereiro deste ano, encontramos o servidor que trabalha na Vila Princesa. Ele acompanhava alguns estudantes da Unir. Todos caminhavam apressados para se proteger da chuva e, ao mesmo tempo, não perder os ônibus que saem do centro lotados para a Jatuarana. Para o servidor, a rotina é antiga e tem se tornado cansativa.
“Precisamos de uma linha de ônibus do campus da Unir entrando em Jatuarana, onde a maioria dos estudantes reside”, explica. Inclusive, ele apela para que as autoridades olhem com carinho para a reivindicação.
A rota também é um risco durante a noite
Para os estudantes, a rota também representa alguns riscos, principalmente para os alunos que voltam da Unir no período da noite ou que chegam quando o movimento da Avenida Campos Sales está mais lento. Eles questionam a falta de bancos e a insalubridade das paradas. Um estudante, que prefere não se identificar, relatou à reportagem um acontecimento em que evitou, inclusive, que uma estudante fosse vítima de um possível estupro.
“Era uma sexta-feira, isso foi ano passado. Eu havia descido na BR-364 e vim, como sempre faço, para essa parada após o Classe A. Uma menina que também vinha da Unir seguia logo atrás. Quando estávamos na parada, chegou um desconhecido com uma garrafa de bebida; ele ficou ao lado. Achei estranho, mas meu cuidado foi mais com a aluna. Eu tive que encontrar uma maneira de dar um ‘toque’ para ela e avisá-la a ir pegar o ônibus em frente ao Hospital João Paulo II, pois, se meu ônibus passasse primeiro, ela ficaria sozinha com aquele homem de atitude suspeita. Resultado: ela seguiu meu conselho. Essa é uma das situações que o aluno da Unir enfrenta; o problema é que nem todos terão esse meu alerta.”
Por fim, os alunos pedem que a prefeitura estude com carinho essa sugestão, mas preferem que ela seja vista como uma reivindicação.
“Nossa reivindicação é que a prefeitura ajude os estudantes que já vivem às duras penas de ter que estudar tão longe e desloque uma linha de ônibus do campus da Unir, integrando-a à Avenida Jatuarana”, finaliza.