Na manhã da Sexta-Feira Santa, enquanto milhares de famílias ribeirinhas enfrentavam a cheia do rio Madeira, a Polícia Federal e o Ibama deflagraram mais uma operação de combate ao garimpo na região. O que chamou atenção desta vez não foi apenas a ação em si, mas o contexto em que ela ocorreu: balsas ancoradas, sem atividade ilegal aparente, foram destruídas com o uso de explosivos.
A advogada Tânia Sena, que representa a Cooperativa dos Garimpeiros, denunciou o caso em suas redes sociais e classificou a ação como “pura covardia”. Segundo ela, houve relatos de embarcações que foram retiradas do ancoradouro e levadas ao meio do rio, apenas para serem detonadas. “São famílias que não têm outra forma de sustento. Destruir as balsas é condená-las à fome”, afirmou.
Essa não é a primeira vez que ações do tipo afetam duramente os garimpeiros. Em operações anteriores, balsas que também serviam de moradia foram queimadas, deixando dezenas de pessoas sem abrigo. Sem alternativa, muitos vivem hoje de doações e programas sociais. Houve quem tentasse iniciar plantações às margens do rio, mas as iniciativas também foram frustradas por novas operações de repressão.
A operação mais recente ocorre a poucos dias da visita do presidente Lula ao Estado. Para líderes locais, a destruição das balsas pode ser interpretada como uma tentativa de mostrar resultados à comunidade internacional, especialmente às ONGs ambientalistas que pressionam pelo fim do garimpo na Amazônia. Mas para os que vivem da atividade, o recado é claro: o trabalho que ainda sustentava centenas de famílias está sendo exterminado.
O ex-ministro Aldo Rebelo já alertava: sem opções reais de trabalho, jovens e famílias da região ficam entre duas escolhas duras — sobreviver de programas sociais que mal garantem o básico ou cair nas mãos do crime organizado, que cresce a passos largos na Amazônia.
“É o fim de uma era. E talvez, para muitos, o início do desespero”, conclui Tânia Sena.