Os grafismos Huni Kuï, expressão artística da etnia Kene Kuï, foram oficialmente reconhecidos como patrimônio cultural da humanidade pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Essa conquista reforça a importância da preservação dessa tradição ancestral, que representa os saberes e técnicas de um povo originário da Amazônia Ocidental.
A medida ocorre no momento em que a política de salvaguarda do patrimônio imaterial completa 25 anos. Para os Huni Kuï, esse reconhecimento simboliza uma luta histórica por valorização cultural. “É um sonho coletivo realizado”, celebrou o cacique Ninawa Huni Kuï, presidente da Federação do Povo Huni Kuï do Acre (FEPHAC).
O Que São os Grafismos Huni Kuï?
Os grafismos Kene Kuï são mais do que arte; são uma forma de expressão que reflete a cosmologia, os rituais e os modos de vida do povo Huni Kuï. Criados principalmente por mulheres, que desempenham o papel de “aïbu keneya” (mestras do desenho), esses padrões geométricos são transmitidos por meio de práticas orais, canções e rituais.
A técnica está presente em diversos elementos do dia a dia, como tecelagem, cestaria, pintura corporal, cerâmica, redes e miçangas. Além disso, a criação dos grafismos está profundamente ligada à observação da natureza e à relação com os “yuxibu” (espíritos da floresta), que inspiram e guiam os artistas.
Medidas de Proteção
Com o reconhecimento oficial, o Iphan desenvolverá políticas de proteção do Kene Kuï, promovendo oficinas de salvaguarda, pesquisas de campo e consultas públicas. Essas ações garantem a transmissão desse conhecimento tradicional para as futuras gerações.
Um Pedido de Décadas
O registro do Kene Kuï no Livro dos Saberes foi solicitado ao Iphan em 2006 por 127 representantes de comunidades e organizações indígenas. Entre os signatários estavam a Associação dos Produtores Kaxinawá da Aldeia Paroá (APROKAP), a Organização dos Povos Indígenas do Rio Envira (OPIRE) e a Federação do Povo Huni Kuï do Acre (FEPHAC).
Cultura Resgatada
A relatora do processo de registro, Naine Terena de Jesus, destacou que houve tentativas históricas de extermínio do povo Kene Kuï. Para o superintendente do Iphan no Acre, Stênio Melo, esse reconhecimento resgata uma cultura milenar e reforça a identidade indígena.
Mesmo antes da oficialização, os Huni Kuï já realizavam pesquisas sobre seus grafismos com apoio de organizações indigenistas, produzindo uma ampla documentação sobre sua história e significado. Agora, com essa nova etapa, a esperança é que a cultura Kene Kuï se fortaleça ainda mais e siga sendo transmitida para as futuras gerações.