O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia (IFRO), Campus Avançado São Miguel do Guaporé, foi palco de uma celebração inesquecível: a cerimônia de certificação do curso de Agricultor(a) Agroflorestal, parte do programa Biocenomia da Amazônia, realizado na comunidade indígena do território Rio Branco, com as etnias Tupari e Kampé.
Realizado no dia 31 de outubro, na sede do campus, foi um momento de beleza e emoção. Conforme os representantes do IFRO, o ambiente estava repleto de sorrisos, lágrimas de alegria e um sentimento de conquista compartilhado por todos. Cada rosto contava uma história de determinação, e era impossível não se emocionar ao ver homens e mulheres indígenas celebrando a conclusão dessa importante jornada. Orgulhosos de sua formação em agricultura agroflorestal, eles irradiavam felicidade e esperança por um futuro mais sustentável e próspero.
“Foi uma oportunidade muito boa trabalhar este curso dentro de uma comunidade indígena, fomos muito bem acolhidos e pudemos trocar boas experiências. O curso de Agricultor Agroflorestal propiciou uma prática muito rica para os alunos, uma vez que eles conseguiram desempenhar as atividades nas suas próprias terras”, conta a Coordenadora Local do Programa Bioeconomia, Cirlânia Pereira Batista.
Segundo Cirlânia, era um momento de gratidão. “Nós, da instituição, sentíamos uma imensa alegria e privilégio por ter compartilhado essa experiência de aprendizado mútuo. Mais do que um curso, este foi um encontro de saberes, uma troca enriquecedora que deixou um legado de conhecimento e respeito. Obrigado por confiarem em nós e por nos permitirem fazer parte dessa linda história”, ressalta.
A aluna Lohayne Sairãka Tuapri Kampé mostra que “a palavra que expressa a admiração, respeito e carinho por meus professores é ‘agradecimento’. Agradecer pela paciência, pela partilha de conhecimento, pelos ensinamentos para a vida. O professor não somente ensina matérias, o professor disciplina alunos, aconselha, gerencia atividades, planeja o futuro e principalmente é formador de opinião. O professor nos faz pensar, refletir, colocar as ideias no lugar. O que seria de nós sem os professores, que, aliados aos pais, nos formam personalidades do bem? Professores não são esquecidos, são lembrados com carinho e ternura”.
“Quem não se lembra dos professores que marcaram sua vida, daquela aula cuja matéria era muito interessante, daquela bronca não bem recebida pela imaturidade? Quem não se lembra dos jeitos particulares e únicos de cada um lecionar? Quem não se lembra da rigidez cobrada para cumprimento do respeito mútuo? Aos mestres agradeço pela luta diária, pela motivação não monetária para exercer com profissionalismo da melhor forma. Os professores nos apresentaram matérias que muito usaremos na vida e outras lições que não estavam incluídas nos livros. Sou grata e honrada pelos professores que tive, pelos ensinamentos que colhi e pela certeza da contribuição árdua desses profissionais para mudanças significativas”, completa Lohayne.
Ela reforça dizendo “obrigada a todas as pessoas que contribuíram para o meu sucesso, principalmente para os nossos queridos professores, Professor Márcio, Professora Jordana e querido Professor Wagner, para o meu crescimento como pessoa. Sou o resultado da confiança e da força de cada um de vocês”, afirmou Lohayne.
Professora e madrinha da turma, Jordana de Araújo Flores, relembra que “eu já sabia que ministrar um curso de agricultor agroflorestal em uma comunidade indígena seria uma experiência única e desafiadora, mas a experiência foi além da relação instrutor e cursistas. Nos primeiros encontros, percebi a importância de uma troca de conhecimentos sensível e respeitosa, então comecei ouvindo e observando as práticas agrícolas e crenças da comunidade. Essa abordagem colaborativa criou um ambiente de confiança, essencial para o curso. E dessa forma a troca de conhecimento fluiu com abundância, assim como as águas do rio branco que dão nome ao território”.
A docente conta que é amazonense e que esse encontro a “reconectou com raízes que a muito estavam adormecidas. A cada fim de semana, compartilhávamos não só conhecimentos, mas também o alimento, conversas calorosas e boas risadas, marcadas pela hospitalidade e o respeito mútuo. Preciso ressaltar que as etapas práticas eram as mais esperadas por ambas as partes, onde juntos preparamos uma composteira, identificamos plantas, planejamos sistemas e sempre debatíamos sobre como cada prática impactava o ambiente e em nossa sobrevivência”.
Para finalizar, Jordana diz que “concluímos oficialmente o curso, mas o aprendizado necessita de continuidade, pois a agrofloresta é mais que uma técnica, é um modo de vida. Por fim digo que essa experiência deixou uma marca permanente em mim e que ela possa ser fonte de inspiração para que eu continue ensinado as técnicas que aprendi sem esquecer que elas vieram de povos tradicionais”.
O Coordenador de Pesquisa e Extensão, Marcio Moreira Costa, explica que a realização do curso de Agricultor(a) Agroflorestal na comunidade indígena Trindade foi um desafio e um privilégio. “A distância da sede do nosso campus até a comunidade é de 60 km, dos quais os 25 km finais estão dentro da TI Rio Branco e em meio à floresta. Isso gerou um custo adicional, custeado pelo campus, além de exigir maior compromisso dos colaboradores por conta do tempo desprendido para ir ministrar as disciplinas. Inclusive tivemos desistência. As atividades cotidianas dos indígenas somadas à distância exigiram ainda um calendário alternativo. As aulas não poderiam ocorrer durante nos dias de semana. Realizar a noite estava fora de cogitação, por exemplo. As atividades do projeto precisavam acontecer aos finais de semana. Por quase 90 dias, a rotina de trabalho incluiu as manhãs e tardes dos sábados e domingos”.
“No entanto, não foram apenas desafios. Pelo contrário, a acolhida de toda a comunidade e a motivação dos alunos e alunas tornaram os desafios pequenos. E foi um enorme privilégio participar dessa partilha de experiências. Oferecemos um pouco do que tínhamos e recebemos muito. As refeições – cafés da manhã e almoço – foram verdadeiras experiências humanitárias; sempre compartilhadas. Ver a realização da certificação desses alunos e alunas é uma realização como coordenador de extensão, mas também como docente. E a certeza de que os esforços valeram a pena e de que a educação está no caminho certo quando chega àqueles que têm menos acesso. E a missão do IFRO é bem clara nesse sentido”, enfatiza o Professor Marcio.
O Diretor-Geral do campus, Mauro Sergio Demício, afirma que a “certificação é muito simbólica para nós do Campus São Miguel, porque é a primeira certificação que fizemos na nossa sede nova e, muito importante, todos os alunos são indígenas do Território Indígena Rio Branco. Considerando nossa região do Vale do Guaporé, esse fato nos deixa muito orgulhos, pela certeza de estarmos cumprindo nossa missão institucional de nos fazermos presentes para todos os povos dessa região, especialmente para os povos e comunidades tradicionais. Estamos todos radiantes de alegria, na certeza de que essa foi apenas uma das muitas ações que pretendemos juntamente com os povos indígenas, quilombolas e extrativistas da região”.