A situação climática pelo fenômeno do “aquecimento global”, a falta de implementação do Acordo de Paris e os incêndios criminosos colocam a Amazônia brasileira em uma situação extremamente perigosa. O professor e pesquisador Paulo Eduardo Artaxo Netto, da Universidade de São Paulo (USP), trouxe dados importantes sobre o que o Brasil vem atravessando em matéria de clima. “Basicamente, estamos aqui discutindo por causa desse gráfico que, apesar do Acordo de Paris, mostra que, apesar da ciência alertar há mais de 50 anos que a humanidade está indo para uma trajetória perigosa do ponto de vista de mudança do clima, essencialmente as concentrações de gases de efeito estufa continuam a aumentar”, disse ele no encontro convocado na noite da terça-feira (17) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tratar dos incêndios criminosos.
Baseado em estudos de entidades ligadas ao governo federal, como o Unep/Gap report, Artaxo Netto pontuou um cronograma do atual cenário brasileiro em relação ao “cenário de emissões como hoje, sem nenhuma redução”, onde o planeta poderá aquecer em média 4,3 graus Celsius. Com a implementação do Acordo de Paris de forma razoavelmente mediana, o cenário seria de 3,7 graus Celsius de aquecimento, e, com aumento de temperatura de 2,8 graus Celsius, em um arco implementado de maneira muito rigorosa. “Veja a gravidade da situação que nós estamos levando, não só para o planeta, mas também para o Brasil”.
Na velocidade dos crimes ambientais e da falta de respeito pelos acordos internacionais e pelas leis internas, o Brasil vive a evolução do aumento de gases de efeito estufa, que o coloca na 7ª posição do ranking mundial e como 4º em condições per capita.

Além disso, Artaxo abordou os efeitos dos riscos envolvidos, como, por exemplo, o aumento na intensidade e frequência de eventos climáticos extremos, “como no Rio Grande do Sul e na seca de 2023 e 2024 na Amazônia, que aumentaram em fator 4 desde a década de 1980”, explicou.
Para o futuro, os eventos climáticos extremos que ocorriam a cada 50 anos, segundo Artaxo, “no início da próxima década vão se tornar 39 vezes mais frequentes e cinco vezes mais intensos. Basicamente, o que estamos observando com esse crescimento de eventos climáticos extremos é importante perceber. Estamos vendo o início desse processo. Ele vai se agravar conforme o aquecimento avança, e o nosso país tem que se preparar para isso”.
Para a Amazônia, o estudo apresentado por Artaxo pontuou as emissões de gases de efeito estufa das queimadas. O pesquisador afirmou que “elas alimentam o aquecimento global. Mas, mais recentemente, temos muitos dados da ciência brasileira mostrando que o aquecimento global está trazendo degradação ao ecossistema amazônico. E isso é importante porque a Amazônia contém 120 bilhões de toneladas de carbono armazenado. Se uma fração desse carbono for para a atmosfera, aqueles cenários do IPCC podem se tornar muito mais importantes e drásticos”, finalizou.