TERÇA-FEIRA, 08/10/2024

Especialistas analisam causas de inundações no Rio Grande do Sul

Há divergências sobre efeitos de ocupação desordenada e uso do solo

Por Rafael Cardoso e Cristina Índio do Brasil - Repórteres da Agência Brasil - 20

Publicado em 

Especialistas analisam causas de inundações no Rio Grande do Sul
Pref. de Canoas/Divulgação

Em cenários de crise, é comum a busca por causas e responsabilidades. A tragédia das chuvas no Rio Grande do Sul, que provocaram a morte de quase 150 pessoas até agora, têm levantado diferentes reflexões. Trata-se de um evento natural excepcional, impossível de prever e evitar? Ou há um grau considerável de responsabilidade humana pela forma de ocupação do território, desenvolvimento urbano e uso do solo?

Agência Brasil conversou com especialistas em recursos hídricos, que pesquisam áreas como geologia, agronomia, engenharia civil e ambiental. Há consenso de que se trata de um evento extremo, sem precedentes, potencializado pelas mudanças climáticas no planeta. Mas quando o assunto é o papel desempenhado pelas atividades econômicas e a ocupação do território, surgem as discordâncias.

Ocupação e desenvolvimento urbano

O geólogo Rualdo Menegat, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), é crítico em relação às políticas de planejamento urbano e econômico no estado. O caso de Porto Alegre, para ele, é o mais emblemático de que há uma desorganização generalizada do território, causado por um conjunto de atividades econômicas. Por isso, defende que não se pode falar apenas em grande precipitação como causadora da tragédia, mas também de problemas graves de gestão que a potencializaram.

“Os planos diretores da cidade foram desestruturados para facilitar a especulação imobiliária. No caso de Porto Alegre, por exemplo, toda a área central que hoje está inundada no porto, foi oferecida para ser privatizada e ocupada por espigões. Houve um sucateamento do nosso sistema de proteção, como se nunca mais fosse haver inundações”, diz Rualdo.

O desmatamento de vegetação nativa para fins imobiliários também é considerado fator que dificulta o escoamento de água da chuva.

“Há uma ocupação intensiva do solo. Em Porto Alegre, em especial na margem do Guaíba, na zona sul, ainda temos um ecossistema mais perto do que foi no passado, com estrutura de zonas de banhado, matas e morros. Mas essas áreas estão sob pressão da especulação imobiliária. E por causa das políticas de uso intensivo do solo urbano, essas áreas estão sendo expostas, em detrimento da conservação dos últimos estoques ambientais, que ajudam a regular as vazões da água”, analisa Rualdo.

O professor de recursos hídricos da Coppe/UFRJ, Paulo Canedo, pondera que ainda é preciso analisar a situação com mais calma. Mas reforça que o desenvolvimento econômico e social, quando não acompanhado de medidas estruturais e preventivas, facilita inundações.

“Nós temos a convicção de que a chuva foi realmente extraordinária. Mas é claro que o progresso da região trouxe dificuldades de escoamento. Isso é a contrapartida do progresso. Criam-se as cidades, as atividades econômicas, novas moradias. Mas tem o ônus de impermeabilizar o solo e gerar mais vazão para a chuva”, avalia Paulo Canedo. “Muitas atividades econômicas podem ter sido desenvolvidas de forma não sustentável. Não criaram condições para lidar com esse aumento de impermeabilização. Isso é algo que devemos ter em mente quando formos reconstruir o Rio Grande do Sul”.

Agricultura

Outro ponto em discussão é se o investimento em determinadas atividades agrícolas, com consequentes alterações da vegetação nativa, ajudaram a fragilizar os solos e o processo de escoamento da água. Para o geólogo Rualdo Menegat, esse foi um dos elementos que aumentou o impacto das chuvas no estado.

“Grande parte do planalto meridional tem sido intensamente ocupada pelas plantações de soja no limite dos arroios, destruindo a mata auxiliar e os bosques. E também os banhados, que acumulam água e ajudam que ela não ganhe velocidade. O escoamento de água passa a ser muito mais violento e em maior quantidade, porque não há tempo para infiltração”, diz Rualdo.

O agrônomo Fernando Setembrino Meirelles discorda do peso dado à agricultura nas inundações recentes. Ele é professor de recursos hídricos na UFRGS e foi diretor do Departamento de Recursos Hídricos do Rio Grande do Sul entre 2015 e 2019. Meirelles defende que as atividades agrícolas não foram um fator de importância para a tragédia, que deve ser explicada pela magnitude das chuvas.

“Tivemos muitos deslizamentos em áreas de matas, que já estavam consolidadas. Na região mais alta e preservada do estado, temos milhares de cicatrizes de escorregamento. O solo derreteu, simplesmente perdeu capacidade de suporte por causa da chuva muito intensa. Na região do Vale do Taquari, a gente vê pilhas de árvores que foram arrancadas. Então, a relação da agricultura com esse evento é zero. Ela não é o motor dessa cheia”, diz Fernando Meirelles.

Doutor em recursos hídricos, o engenheiro civil e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC-RS), Jaime Federici Gomes, entende que, apesar do papel importante que a vegetação desempenha no escoamento de água, não acredita que as intervenções agrícolas tenham tido influência nas inundações.

“Os tipos de vegetação que estão no solo têm influência em uma das fases do ciclo hidrológico, que é a interceptação de água pelas raízes. Grandes plantas são um reservatório e jogam parte dessa água para atmosfera. As copas das árvores também podem interceptar a água antes de ela chegar ao solo. Mas dada a magnitude das chuvas, eu não sei como regiões mais florestadas poderiam ter diminuído o volume de escoamento. Em um evento desse, com muita água, pode não ter tido quase influência”, diz Jaime.

Sistemas de contenção

Depois de um histórico de enchentes no século 20, a cidade de Porto Alegre desenvolveu uma série de recursos estruturais para impedir enchentes. Nesse ponto, não há divergências: ficou claro que o sistema de contenção de águas apresentou falhas agora.

“Os sistemas de proteção foram projetados na década de 1970, por causa das cheias de 1941 e de 1967. Ele foi o mais economicamente viável. Tecnicamente é bastante adequado e eficiente. Em Porto Alegre, tem também vários diques compatíveis com a cheia de 1941. Mas, desta vez, na hora de fechar as comportas, quando a água ficou acima de quatro metros, elas começaram a vazar, tiveram problemas de vedação e acabaram abrindo. E as casas de bombas, que drenam as águas dentro da cidade, devem ter falhado”, analisa o engenheiro Jaime Federici.

“Os sistemas de proteção falharam aqui em Porto Alegre por falta de manutenção. Ele não foi superado pela água, já que ela entrou por baixo. Agora em outros sistemas, como os das cidades de São Leopoldo e de Canoas, houve uma passagem da água por cima deles. Ou seja, os critérios de projeto que foram utilizados considerando o passado, agora não têm mais validade. Eventos estão mostrando que, por causa das mudanças climáticas, devemos considerar outras métricas e estatísticas”, complementa o professor Fernando Meirelles.

Para Rualdo Menegat, a negligência política ajudou a enfraquecer a capacidade estrutural do estado de lidar com fenômenos climáticos mais intensos.

“Nas cidades e nos campos, a infraestrutura de energia elétrica, de água e de proteção contra as inundações estão sendo sucateadas nos últimos três governos estaduais. A companhia de energia elétrica e de abastecimento de água foram privatizadas. A Secretaria de Meio Ambiente foi incorporada a outra e assumiu papel secundário. O estado não desenvolveu capacidade de inteligência estratégica para diminuir os riscos e nos tornamos mais vulneráveis”, diz Rualdo.

Conhecimento e prevenção

Quando se fala em prevenção e redução de danos, os especialistas entendem que é possível ao menos minimizar as consequências dos fenômenos climáticos com treinamento adequado de profissionais e da população.

“Não temos uma Defesa Civil eficiente. O que vimos foi que ela está desestruturada, com dificuldades, mal aparelhada, sucateada. E sem mecanismos de alerta. Além disso, temos uma população que, por não haver programas estratégicos para ela, tem problemas de acesso às informações de prevenção”, diz Rualdo.

“As defesas civis de alguns municípios, principalmente desses que foram afetados, têm uma ou duas pessoas. Poucos têm uma Defesa Civil consolidada. E a população precisa de treinamento para saber se defender”, diz Jaime Federici. “Mas, economicamente, não vejo soluções definitivas para esse tipo de evento. Vamos imaginar o exemplo do Japão, que lida com furacões, terremotos e maremotos, e tem toda uma estrutura para conviver com esses eventos extremos. Isso é algo que temos que começar a estabelecer na cultura. Precisamos aprender a nos defender, lidar com essas situações e, aos poucos, fazer as adaptações estruturais”.

Publicidade
NEWSTV
Publicidade
Energisa
Publicidade
Publicidade
ELEIÇÕES

NEWS QUE VOCÊ VAI QUERER LER

Governo de RO convoca candidatos a beneficiários de imóveis em Ji-Paraná para atualização cadastral e montagem de dossiê

Governo de RO convoca candidatos a beneficiários de imóveis em Ji-Paraná para atualização cadastral e montagem de dossiê

A habitação é mais que uma estrutura física de moradia; é um abrigo, um lar, conforto e segurança para se viver, e viver bem.
L

Bruno Person no “Mais Saúde”: Transformando Vidas com Educação Física Inclusiva

A educação física inclusiva e o impacto transformador nas crianças atípicas
L

Entrevista inspiradora no Podcast “Mais Saúde” com Dr. Ricardo Pianta

Explorando a Oftalmologia e a Comunicação com paixão.
L

Em Porto Velho, três candidatos tiraram menos do que cinco votos

Neste ano, 441 pessoas solicitaram junto à justiça eleitoral candidatura para o cargo de vereador na cidade.
L

Renilda de Medeiros Vieira é Destaque no Prêmio Histórias de Quem Atende em Rondônia

Para Renilda, receber o prêmio é uma honra indescritível. “Esse reconhecimento reforça meu compromisso com cada empreendedor que procura o Sebrae em busca de soluções e apoio para transformar sonhos em realidade”, disse ela.
L
Publicidade

DESTAQUES NEWS

Apenas duas mulheres conseguiram se eleger para a Câmara de Porto Velho: Ellis e Sofia

No pleito do domingo, Ellis obteve 4.034 votos e conquistou a reeleição, por Quociente Partidário (QP). Já Sofia recebeu 3.359 votos, sendo eleita por média.
L

PL, partido de Bolsonaro, fez 112 candidatos em Rondônia e ganha a liderança entre as agremiações

O PL também fez vice-prefeitos: Ariquemes, Colorado do Oeste, Corumbiara, Governador Jorge Teixeira, Ji-Paraná, Ouro Preto do Oeste, Santa Luzia, São Miguel do Guaporé e Vilhena.
L

HISTÓRICO: Fernando Silva promete honrar cada voto recebido nas eleições de Porto Velho

Mesmo antes de se candidatar, ele já realizava ações voltadas ao bem-estar da comunidade, trabalhando ativamente em projetos sociais que buscam inclusão e apoio a quem mais precisa.
L
Em 15 capitais, eleitores escolherão prefeitos em segundo turno

Em 15 capitais, eleitores escolherão prefeitos em segundo turno

Resultados mostraram grande presença de partidos de centro no 2º turno
L
Propaganda eleitoral para 2º turno será retomada nesta segunda

Propaganda eleitoral para 2º turno será retomada nesta segunda

Horário eleitoral no rádio e na TV volta a ser transmitido no dia 11
L
Publicidade

EMPREGOS E CONCURSOS

TCE-RO abre inscrição para nova formação de gestores e técnicos da Educação

As inscrições devem ser feitas pelo sistema Sophos, a partir de lista indicada pela própria SEDUC ao Tribunal de Contas. 
L
Concurso dos Correios destina 30% das vagas para negros e indígenas

Concurso dos Correios destina 30% das vagas para negros e indígenas

Editais para analistas e técnicos saem na próxima quarta-feira.
L

Sine Municipal de Porto Velho divulga 47 vagas de emprego para esta semana

Os cadastros dos interessados podem ser feitos on-line ou presencialmente.
L

UNIR abre editais para contratação de professores substitutos

Veja abaixo mais detalhes sobre cada um dos processos seletivos abertos no momento.
L
Massa salarial dos trabalhadores atinge recorde em agosto, diz IBGE

Massa salarial dos trabalhadores atinge recorde em agosto, diz IBGE

Total de pessoas empregadas foi 102,5 milhões
L
Publicidade

POLÍTICA

ELEIÇÕES 2024: “Neidinha Suruí” enxerga nos apoiadores uma semente para o futuro

No entanto, nenhum dos eleitos apresentou um compromisso claro com a preservação ambiental, uma questão que o cenário atual deixa evidente como crucial para a sobrevivência futura da capital.
L

Pastor Bruno Luciano é eleito vereador com 2.523 votos

Bruno Luciano, que há décadas atua na vida espiritual e social da cidade, agora terá a oportunidade de expandir sua missão, levando os princípios do Evangelho para a Câmara de Vereadores de Porto Velho.
L

Paulo da Remap é reeleito prefeito de Machadinho D’Oeste com 59,39% dos votos

Edson Welten (União Brasil) conquistou 7,02% dos votos, totalizando 1.201 eleitores. Marinho (PV), que teve sua candidatura anulada sub judice, ficou com 3,10%, contabilizando 530 votos.
L

João Becker é reeleito prefeito de Cujubim com 54,70% dos voto

Durante a campanha eleitoral, João Becker e seu vice Andriw, adotaram uma postura voltada para apresentar os resultados do trabalho realizado, destacando as ações que têm permitido o progresso do município.
L

Balanço indica 26 pessoas trans eleitas para câmaras municipais

Levantamento é da Associação Nacional de Travestis e Transexuais
L
Publicidade

POLÍCIA

Casal foge após atropelar mãe e filha na BR-364 em Porto Velho

Segundo testemunhas, as vítimas transitavam de moto, sentido Candeias, quando foram atingidas por trás por um carro e arremessadas para o canteiro central.
14

Hilux invade cruzamento e deixa motociclista com fratura na zona leste

De acordo com testemunhas, a motociclista seguia pela Matrinchã, sentido Rio de Janeiro, quando a Hilux invadiu a preferencial pela Tucunaré e causou a colisão.
10

Idoso é preso embriagado depois de causar grave acidente no centro

O idoso foi submetido ao teste do bafômetro, com resultado de 0,70 mg/L, constatando crime de embriaguez ao volante.
12

Vigilante reage e troca tiros com bandidos em escola na zona leste

A PM foi acionada e ainda realizou buscas, mas nenhum dos suspeitos foi localizado.
10
Motociclista fica em estado grave depois de bater em papa entulho na zona leste

Câmera registra motociclista batendo de frente em papa entulho na zona leste

Nas imagens é possível ver quando o motociclista invade a pista contrária e só para depois de bater violentamente contra um papa entulho as margens da via.
14
Publicidade

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Saiba como cuidar das palhetas de para-brisa

Durante o período de chuvas intensas, é importante verificar o estado dos componentes
L

Mercedes-Benz amplia família GLC 300

4MATIC AMG Line chega ao Brasil com preço a partir de R$ 509.900,00
L

Recebimento da Licença Ambiental: NORTE & SUL SERVIÇOS TERCEIRIZADOS DE MÃO DE OBRA LTDA

LICENÇA AMBIENTAL DE OPERAÇÃO (LAO) N° 122 SOL/DLA
L

Requerimento da Licença Ambiental: DMM ENERGIA E ENGENHARIA LTDA

LICENÇA AMBIENTAL PRÉVIA – LAP
L

Requerimento de Renovação da Licença Ambiental: FOX PNEUS LTDA

LICENÇA DE OPERAÇÃO nº 025/2023/SEMMA/PMV
L

Requerimento de Renovação da Licença Ambiental: FOX PNEUS LTDA

LICENÇA DE OPERAÇÃO nº 29/2023/SEMMA/PMV
L

Recebimento da Licença Ambiental: ORTOMEDIKA COMÉRCIO E SERVIÇO DE ARTIGOS MÉDICOS EORTOPÉDICOS LTDA

LICENÇA AMBIENTAL SIMPLIFICADA Nº 016.00462.002/2024-SUL DE ORIGEM DA AUTORIZAÇÃO: SUL.0000006015/2019-E
L
DPU divulga nota sobre as eleições municipais e destaca fortalecimento da democracia

DPU divulga nota sobre as eleições municipais e destaca fortalecimento da democracia

Eleitores de todo o país foram às urnas nesse domingo, 6 de outubro; DPU teve plantão eleitoral.
L
Vacinação no TRT-14: acesso facilitado para servidores e familiares

Vacinação no TRT-14: acesso facilitado para servidores e familiares

A Campanha de vacinação é realizada em todas as unidades do TRT da 14ª Região, que abrange os estados de Rondônia e Acre.
L

Recebimento da Licença Ambiental: R L LOUREDO LTDA

LICENÇA AMBIENTAL SIMPLIFICADA Nº 016.00463.002/2024-SUL
L