Das paixões que desfruta na vida, como por exemplo, o gosto pela música e a afeição por gatos, há uma em especial que Ana Lúcia Pacini, Secretária Estadual de Educação de Rondônia, jamais conseguira esconder de nós: a dileção mor pela Educação. Tal apreço está trazendo à tona questões muito importantes, muitas das vezes consideradas invisíveis no país, sobre o rumo da Educação Indígena.
Marcando presença em Rio Branco, capital do Acre, nos debates da Câmara Setorial de Educação do 27° Fórum de Governadores da Amazônia Legal, Ana Lúcia levantou voz sobre o compromisso da gestão Marcos Rocha em melhor a educação, e muito acima disso, sobre metas para fortalecer a base educacional indígena visando ser, num futuro próximo, referência no país.
Aos seus pares, secretários de outros estados, ela apresentou modelos de legislação específica, contratação de professores indígenas, formação de profissionais, construção de escolas e a valorização da cultura e línguas indígenas como passos significativos rumo à inclusão e preservação das tradições locais.
Após longos debates dentro do Fórum, uma pausa para receber a reportagem do News Rondônia que aproveitou o bojo para uma entrevista especial que você confere a seguir:
NEWS RONDÔNIA – Qual a importância de incluir a educação de Rondônia dentro do Fórum de Governadores da Amazônia realizado aqui no Acre?
Essa Câmara de Educação está sendo resgatada agora e é de suma importância. Quando a gente fala no Fórum dos Governadores, isso tem uma força muito grande para os povos da Amazônia, porque aqui é discutido diversos temas, não só voltado às questões climáticas e de meio ambiente, mas todas as questões econômicas, financeiras dos nossos estados da Amazônia. E a educação não pode ficar fora disso porque é a partir da educação que tudo inicia, principalmente quando o tema é meio ambiente e as questões climáticas. Então, esse resgate da Câmara de Educação, eu tenho certeza que vai fortalecer muito a educação em Rondônia e também de todos os outros estados da região norte.
NEWS RONDÔNIA – Qual a pauta central de Rondônia dentro da Câmara Setorial de Educação?
Eu acabei de ser eleita vice-presidente do CONSED, que é o Conselho Nacional de Secretários Estaduais do Brasil. Eu represento a região norte e na primeira reunião que nós tivemos no CONSED Norte, um tema que é comum a todos os estados da região é a educação escolar indígena, porque nenhum estado das outras regiões tem a dimensão do que é a educação indígena aqui nessa região, com essa extensão territorial imensa e com essa diversidade cultural, linguística, social que nós temos aqui. Então, nós trouxemos a discussão para a primeira câmara da educação escolar indígena.
NEWS RONDÔNIA – Tem algum projeto que o Estado esteja executando para que isso possa também ser de certa forma modelo aos outros estados?
O Estado de Rondônia já é um modelo para os outros estados, porque nós fomos o primeiro a ter a nossa legislação específica para a educação escolar indígena, que é a Lei N° 578. E o nosso estado foi o primeiro a lançar concurso para indígenas, para professores indígenas. Hoje nós temos professores do quadro que são indígenas, sabedores indígenas que levam a cultura e toda a parte cultural daquela etnia para os estudantes e também professores de língua materna.
E agora tivemos a outra inovação, que foi a contratação de técnicos, merendeiras e serviços de limpeza nas escolas indígenas, porque não existia, era o próprio professor que fazia esse trabalho. Além disso, nós hoje já temos um padrão de escola indígena, próprio para Rondônia, e estaremos agora construindo 22 escolas indígenas ali na região de Guajará-Mirim e também em outras regiões do Estado de Rondônia.
Tivemos o Projeto Açaí, que é a formação dos nossos professores em magistério, e já temos professores também no Intercultural da Universidade Federal de Rondônia, inclusive já temos professores indígenas, doutores e mestres.
NEWS RONDÔNIA – Há tempos os indígenas saíram da sintonia de ficar bonito apenas nas fotografias, e passaram a lutar com mais afinco por seus direitos. A pergunta é: Existe diálogo entre Governo, por meio da sua pasta, junto aos Povos Originários para definir o que é o melhor na educação deles?
Eu acho que o primeiro passo é dar a eles a oportunidade de discutir a educação indígena. O primeiro passo foi o nosso governador, o coronel Marcos Rocha, ter criado a Superintendência Indígena, que assumiu, na semana passada, um indígena e que vai compor a equipe com pessoas estudiosas na área. Na educação em específico, nós já temos a nossa gerência de educação escolar indígena, que está à frente, o Antônio Puroborá, que é um indígena, e que tem feito um trabalho excepcional, que além de gerente, ele também é conselheiro do Conselho Estadual de Educação.
Nas coordenadorias regionais, nós temos 18 coordenadorias que apoiam o trabalho da sede, nós já estamos nessa perspectiva de colocar nos espaços os indígenas. É óbvio que a gente precisa capacitar para que eles possam fazer um trabalho a contento, porque tem toda uma questão administrativa e não é só pedagógica.
A questão administrativa também tem um peso muito importante, mas a gente vem trabalhando nessa perspectiva de substituir os professores e os profissionais brancos por indígenas para que eles possam discutir educação indígena da melhor forma possível.
NEWS RONDÔNIA – Publicamos uma reportagem sobre a posição de cinco cidades rondonienses no ranking de competitividade 2023. Das 400 cidades analisadas em todo o país, ficamos acima da 205° posição no quesito educação. Onde estamos falhando e como melhorar neste ranking?
O nosso governador é um governador municipalista. E no entendimento dele, e que ele passa isso constantemente para a gente, é que não existe aluno do Estado e do município. Existe aluno de Rondônia. Nós precisamos investir na rede municipal que está com dificuldade, da mesma forma que a gente investe na rede estadual.
Hoje, uma das maiores deficiências é a questão da alfabetização. O aluno muitas vezes chega no sexto ano com dificuldade de leitura, com dificuldade de interpretação, com dificuldade de escrita, com dificuldade de modificações, de visões básicas da matemática. Então, ele leva essa lacuna de aprendizagem para o resto da vida dele, até a universidade, e ele vai ter dificuldade. Então, se você trabalha na base, se você fortalece a base, que é a alfabetização, você traz esse aluno muito mais bem preparado para o ensino fundamental 2 e o ensino médio. É claro que isso às vezes não é muito atrativo, porque não é um plano de governo. É um plano a longo prazo.
A educação não se faz de forma imediatista. E o governador tem muito essa visão de querer deixar um legado para o futuro. E não importa se ele será governador ou se eu serei a secretária. O que importa é que o nosso aluno seja bem alfabetizado e que daqui a 9, 10 anos, ele esteja chegando na rede estadual, no ensino médio, muito mais bem preparado e certamente será um excelente profissional, com muito mais sucesso e condição de sustentar sua própria família.
NEWS RONDÔNIA – Agora, Secretária, se a sua gestão passasse por uma prova, neste instante, que nota ela receberia? Passaria de ano ou iria para recuperação, pra final?
Na verdade, nós temos um caminho longo a seguir. É difícil você dar uma nota porque tem vieses, né? Nós temos modalidades. Então, a gente tem trabalhado o regime de colaboração muito bem. Os municípios fortalecendo os municípios. O nosso ensino médio hoje, nós temos alunos que tiram notas de 980 na redação do Enem. A gente tem investido no material de qualidade, em alunos. Agora, nesse momento, está acontecendo um aulão para mais de mil alunos na Talismã.
A gente tem investido muito! Mas a gente não pode dizer que nós estamos 100% porque a gente ainda tem um caminho, né? Eu vou me abster de dar uma nota porque eu vou ser parcial. Lógico, eu quero dar 10 para mim, mas eu não posso ser mentirosa também e dizer que está tudo perfeito. Mas assim, se for pela nossa vontade, pode ter certeza que vai ser 11. E a nossa luta é para que a gente alcance aí para ser uma das melhores educações no Brasil. Já estamos, assim, em nível de Brasil, a gente já tem se destacado. Mas a gente quer melhorar ainda mais.
NEWS RONDÔNIA – Ana Pacini, muito obrigado pela entrevista. Que todos os projetos da educação possam ser concretizados e que alcancemos a nota máxima em excelência ainda num futuro breve! Foi bom compreender o compromisso de garantir que os povos indígenas tenham acesso a uma educação de qualidade, que respeite e valorize suas identidades culturais. Sucesso!