O Rio Negro, crucial afluente do Rio Amazonas, presencia seu mais baixo nível em 121 anos, afetando profundamente a vida e atividades daqueles que dependem de suas águas. No coração de Manaus, o vibrante porto parece vazio. Apenas observando mais de perto, é possível identificar navios e barcos turísticos ancorados a distância, enquanto uma extensa faixa de areia surge por conta da diminuição das águas.
Essa crise hidrológica intensificou-se em junho, impulsionada pelo fenômeno El Niño e pelo aquecimento do Atlântico norte. De acordo com Renato Senna, meteorologista do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, o rio tem experimentado uma queda de 10 centímetros diariamente.
Conforme destacado pelo jornal francês “Le Monde“, a gravidade da situação levou o governo do Amazonas a decretar estado de emergência em 59 municípios. Estima-se que aproximadamente 633 mil indivíduos estejam sendo prejudicados pela escassez de água. Em Manaus, algumas comunidades ribeirinhas ficaram isoladas, com moradores sendo forçados a se locomover a pé pela lama para alcançar certas áreas.
A seca vem trazendo múltiplos desafios à região: transporte de bens, acesso à educação, pesca e turismo, sendo que em algumas áreas, até 70% da receita provém do turismo. Uma constatação alarmante em setembro foi o achado de inúmeros peixes e botos mortos nas proximidades do rio Tefé, possivelmente devido ao aumento da temperatura da água.

Além da seca, incêndios florestais exacerbam a situação. Marina Silva, ministra brasileira do Meio Ambiente, menciona um incremento de 154% nas queimadas em comparação com o ano anterior. A maioria desses incêndios é atribuída a práticas agrícolas ilegais. De fato, a capital Manaus chegou a ser listada entre as cidades mais poluídas do planeta, conforme o World Air Quality Index.
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Em resposta a essa calamidade, ações emergenciais têm sido tomadas pelo governo local, incluindo operações de dragagem e distribuição de alimentos para as famílias mais afetadas.
Apesar das chuvas recentes, “Le Monde” enfatiza que a Amazônia permanece em perigo. As águas do Rio Negro seguem diminuindo dia após dia, levantando questionamentos sobre o futuro da região.