Autora: Renata Camurça
“Sobre o doce da cana, há muito suor salgado. É muito trabalho e pouco descanso. Muito trabalho e pouca vida. A usina de moer cana e gente segue a todo vapor.” Lucas Bezerra (Doutorando em Serviço Social pela UFRJ)
A data de 16 de janeiro foi escolhida para homenagear do cortador de cana-de-açúcar, profissional indispensável no processo de cultivo.
A monocultura da cana foi a primeira atividade econômica que se desenvolveu no Brasil, realizada durante muitos anos de forma exploratória, arriscada e sem qualquer respaldo. Com o passar dos tempos foram efetivadas algumas conquistas, pequenas mudanças na qualidade de vida, mas, ainda que a realidade tenha melhorado, a luta é grande e ainda há muito a evoluir no quesito dignidade.
Segundo os dados mais recentes da Confederação Nacional dos Trabalhadores Assalariados e Assalariadas Rurais (Contar), durante o período da safra, soma um total mediano de 300 mil trabalhadores brasileiros, grande parte do sexo masculino, com pouco ou nenhuma escolaridade e sem qualificação profissional.
A jornada de trabalho é dura, exaustiva e precária. Os trabalhadores chegam a ficar 20 horas abaixo de um sol escaldante e entre a fuligem da cana, sem equipamentos de segurança e sem alimentação adequada.
Como o poder público não fiscaliza severamente os empregadores e os trabalhadores recebem por produção, um determinado valor por tonelada de cana cortada, acabam ultrapassando seus próprios limites e exagerando nas horas de trabalhando na ânsia de ganhar um pouco mais. E acredite, a consequência de tanto esforço pode ser fatal, muitos cortadores de cana morrem de exaustão.
Outro fator de risco é a forma que os trabalhadores são transportados. São utilizados ônibus velhos, enferrujado e conduzidos muitas vezes por motoristas inexperientes. Sem falar que o material de trabalho, instrumentos cortantes, vão no mesmo espaço que os passageiros, colocando-os em perigo.
Conforme dados da ONG Repórter Brasil, entre os anos 2003 e 2013, aproximadamente 11 mil canavieiras foram encontradas em situação semelhante ao trabalho escravo.
O Dia do Cortado de Cana-de-Açúcar é importante para que a sociedade possa lembrar dessa tão necessária profissão, valorizar a atividade, respeitar o profissional e cada vez mais buscar medias que melhorem as condições de trabalho.