Autor:Geovani Berno
Peço perdão pelo erro gramático do título, mas é impossível falar de Jô Soares. Simplesmente porque ele não era único. Era vários em um só. Um artista multifacetado, culturalmente brilhante, uma mente privilegiada e que nunca, nunca cansava de aprender e a buscar novos conhecimentos e se aventurar em novos desafios. José Eugênio Soares já começou contrariando a vida ao não ter o apelido de “Zé”, “Zeca”, mas de “Jô”. E, assim, carinhosamente sempre foi chamado e amado por todos.
Juntamente com “Os trapalhões” e o mestre Chico Anysio, Jô construiu sua história entre os grandes nomes do humor. Lembro de ainda pequeno assistir aos programas “Balança mas não cai”, “Planeta dos Homens” (quem não lembra do macaco descascando a banana e saindo uma linda mulher); “A Praça é nossa” entre tantos outros que acabaram posteriormente, a render um programa exclusivo ao nosso “gordinho”, como “Viva o Gordo”. E eu como gordinho, me identificava com seus personagens e seus bordões. Mesmo quem não tenha vivido na época vai lembrar, ou já ter visto pelo youtube bordões como “Põe ponta, Telê”, “Marilza, eu tô aqui”; “vice, não fala”; “muy amigo”; “é o meu jeitinho”; “sois rei, sois rei!!!”… nossa, tantas lembranças agora me vêm à mente que até emociono ao escrever.
Agora lembrei da sátira que ele fazia aos programas políticos da época que eram milimetricamente coordenados pela ditadura militar e que cortavam o candidato quando ele falava além do tempo ou então quando ia falar algo que contrariasse os interesses da época. Simplesmente hilário. Portanto, não podemos deixar de reverenciar e a amar JÔ SOARES.
Ele, juntamente com tantos outros humoristas deveriam ser reverenciados por seu carisma, por nos jogar na cara os nossos vícios e de quebra nos fazer rir. Por lutar pela democracia, por falar a verdade sem agredir ou ofender ninguém, pois o humor era construído com sabedoria, inteligência e, principalmente, criatividade sem apelações.
Um país que perdeu um diplomata (sim Jô chegou a estudar na Suíça e falava fluentemente cinco idiomas), mas ganhamos um mestre do humor por excelência. Histórico Jô fez sua estreia na televisão em 1956 no elenco da "Praça da Alegria", na Record TV, onde ficou por aproximadamente 10 anos. Já em 1958, interpretou um americano no filme "O Homem de Sputinik", dirigido por Carlos Manga e estrelado por Oscarito. No mesmo ano, escrevia para um programa da TV Continental chamado "TV Mistério”, que tinha no elenco Paulo Autran e Tônia Carreiro. Fez outros programas na Record. Além de escrever o "Simonetti Show", atuava em outros como "Jô Show", "Show do Dia 7", "Você é o Detetive" e "A Família Trapo", série que escrevia com Carlos Alberto de Nóbrega. Em 1965 ele protagonizou a única novela da sua carreira, a "Ceará contra 007" (Record TV), a comédia de maior audiência no Brasil na época. Na TV Globo seu primeiro humorístico foi em 1970, com o "Faça Humor, Não Faça Guerra", que virou um marco com piadas curtas e cortes secos. Jô Soares interpretava, entre outros, o Bêbado, o professor Gengir Khan, o Irmão Thomas, Manchetão e, um dos seus maiores sucessos, a espevitada Norminha, uma jovem cantora hippie. Três anos depois, o programa foi substituído pelo "Satiricom", em que Jô também trabalhava como ator e redator.
Depois, ele passou a integrar a equipe do "Planeta dos Homens", que ficou no ar entre 1976 e 1982. Jô deixou o programa em 1981, para fazer sua primeira empreitada solo: "Viva o Gordo". No "Viva o Gordo", Jô viveu personagens icônicos, como o Reizinho, que satirizava a situação política do país, e o Capitão Gay, super-herói que usava um uniforme rosa.
Ao mesmo tempo, ele apresentava um quadro no Jornal da Globo. Em 1987 Jô surpreendeu o Brasil saindo da Globo e indo ao SBT para poder realizar seu grande desejo: o de ter um programa em formato de entrevistas. Chegou até a fazer um programa de humor, mas não deu muito certo. Mas o “Jô Soares Onze e meia” e o bordão “Não vá pra cama sem ele” fez muito sucesso e, enquanto esteve no ar até 1999 chegou a marca de 6 mil entrevistas realizadas. Com o casamento desfeito no SBT, retornou à “vênus platinada” em 2000 com o “programa do Jô e seu sexteto, onde permaneceu até 2016 com enorme sucesso. Uma das grandes lembranças foi na primeira semana de programa quando levou ao ar a icônica entrevista com Hebe Camargo, Lolita Rodrigues e Nair Belo. Jô também se aventurou na literatura e escreveu livros como “O Xangô de Baker Street”, “O homem que matou Getulio Vargas”, “Assassinatos na Academia de Letras” e “As Esganadas”. Jô também escreveu para teatro (eu encenei um esquete escrito por ele intitulado “O Flagrante”), entre outras. Também dirigiu várias peças de teatro, incluindo o seu grande amigo Juca de Oliveira.