A aprazível terra mãe construiu com harmonia e deslumbramento os colossais caminhos interligados de forma fabulosa até a suntuosa aldeia, maviosamente embelecida pela estetizante e briosa paisagem que com a sua radiante beleza, alimentava e protegia os seus filhos originários.
A terra mãe na sua brilhante fascinação e generosidade era honrosamente vivificada no seu espaço de ação pela estesia prodigiosa de suas coletividades ancestro – cosmogônicas. Os transcendentais ritos e mitos e suas simbologias divinizantes, atraiam e contagiavam aldeias dos mais longínquos lugares para contemplarem as encantatórias festividades milenares, realizadas com iniludível exaltação pela desmesurada magnitude de seus povos.
Os impolutos caminhos das aldeias tronaram-se no espaço e tempo enraizados ontologicamente ao ser, enquanto o sentimento e o pertencimento de lugar foram sendo cotidianamente apropriados e metamorfoseados, fazendo com que neste autêntico lugar brotassem os devaneios mítico – transcendentais de um imaginário divinal – poetizante.
Mas a terra mãe foi aos poucos perdendo a sua pujança e bem viver, e foi sentindo a sua obstinação e volúpia, sendo afrontosamente execrada pela sociedade envolvente. A sua inenarrável virtuosidade foi sendo raivosamente alijada, enquanto a sua irradiante mata verdejante tornou-se insolentemente ceifada pelo delituoso descalabro da incúria humana.
A desterritorialização hostil e tenebrosa das coletividades originárias provocou o ignóbil asfixiamento de seus territórios, além de culminar nos adventos insidiosos das extrações ilegais minerais e extrativistas, e ainda provocar a derrocada ardilosa de suas ancestrais ritualísticas mítico – religiosas de seus deuses em nome da empáfia lutulenta de religiões europeizadas dominantes.
Os ritos e mitos originários foram condenados à maledicência, as suas festividades tradicionais foram destinadas ao malogro, e o simbólico mundo sócio – linguístico – cultural foi humilhadamente obliterado e postergado de forma pugnaz sob a influência religiosa da sociedade envolvente.
Os caminhos da aldeia foram extintos e transformados numa estrada de via única, visivelmente adornada pelo crescimento acelerado do agronegócio. Nesse caminho restou apenas um sinal de esperança: uma inefável e inebriante castanheira ornada de flores.
Seu aspecto fulgente e imensurável sobrevive imbuído de um enleamento sublime e exuberante com a natureza, esperando de forma solitária, que a terra mãe se reencontre com as transcendentais encantarias dos mundos material e imaterial de suas coletividades e que os anjos do bem viver possam voltar a bater na porta de cada aldeia.
Marquelino Santana é doutor em geografia, pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisas, Modos de Vida e Culturas Amazônicas – Gepcultura/Unir e pesquisador do grupo de pesquisa Percival Farquhar o maior empresário do Brasil: Territórios, Redes e Conflitos na Implantação da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM-RO) e na Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande (EFSPRG-PR/SC), da Universidade Estadual de Londrina e do grupo de pesquisa Geografia Política, Território, Poder e Conflito, também da Universidade Estadual de Londrina.