Basta uma volta ao campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) da Ilha do Fundão, zona norte do Rio, para encontrar sinais claros de falta de manutenção. Madeira e armários antigos amontoados pela grama, ferrugem e infiltração em pilares e vigas que sustentam alguns prédios. Paredes inteiras pichadas, grama alta no meio do pátio e lixo em diversos pontos.
Com o orçamento cada vez mais curto, a manutenção na universidade vai ficando de lado. O orçamento atual é o mesmo de 13 anos atrás, metade do ano passado. Só de gastos com despesas básicas como água, luz, segurança e limpeza, a UFRJ gasta por mês R$ 31 milhões. Segundo a reitoria, o dinheiro em caixa é suficiente para estes custos até o mês de julho.
Em 2012 o orçamento foi de R$ 773 milhões; no ano passado, R$ 386 milhões. Queda em média de 7% ao ano. Este ano, dos R$ 299 milhões previstos, o governo federal liberou pouco mais de R$ 140 milhões. O orçamento do MEC para Universidades Federais é o menor dos últimos 10 anos: R$ 4,5 bilhões. Deste total, R$ 1 bilhão está bloqueado.
A UFRJ tem 65 mil alunos e 1.456 laboratórios. São 176 cursos de graduação, 45 bibliotecas e 13 museus. O estudante Guilherme Goulart da Silva passou no curso de Engenharia de Materiais e está preocupado com a falta de recursos. “Meu curso precisa não só de sala de aula, mas de laboratórios, sem verba fica tudo inviável. Eu não sei nem se vou ter aulas presenciais no início da minha vida acadêmica”.
Além dos alunos, quem faz tratamento contra a Covid-19 pode ser prejudicado. As nove unidades de saúde da instituição podem fechar pela falta de recursos, entre eles o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, o maior do Estado do Rio em volume de consultas. Recentemente o hospital instalou um novo CTI com mais de 100 leitos para o tratamento do novo coronavírus.
O MEC informou que está promovendo ações junto ao Ministério da Economia para que as dotações sejam desbloqueadas e o orçamento seja disponibilizado em sua totalidade para a pasta. A pasta diz ainda que, da sua parte, não houve corte no orçamento das unidades, mas o bloqueio de dotações orçamentárias para atendimento a decreto. Com uma evolução no cenário fiscal no segundo semestre, essas dotações poderão ser desbloqueadas e executadas.