O mau desempenho no primeiro trimestre de 2020, em razão das fortes chuvas e do início da pandemia, frente ao mesmo período de 2021 levou a indústria do cimento a um crescimento acumulado de 19%.
Em termos nominais, foram vendidas 15,3 milhões de toneladas no trimestre, sendo que 5,5 milhões ocorreram somente em março, mantendo o mesmo patamar dos meses anteriores. Na comparação entre março de 2021 e março de 2020 o crescimento foi de 34,6%.
Os principais indutores desse desempenho continuam sendo as condições climáticas favoráveis, a manutenção das obras imobiliárias e a autoconstrução, que ainda desempenha um papel relevante nas vendas de cimento, mesmo com a suspensão do auxílio emergencial desde janeiro.
Na contramão dos resultados do período, as vendas de cimento por dia útil, melhor indicador do setor, tiveram uma queda de 6,3% na comparação com o mês de fevereiro, que ocorreram pela antecipação dos feriados e restrições de circulação e do funcionamento do comércio – destaque para as lojas de materiais de construção -, além de fatores como aumento do desemprego, inflação e queda da renda.
"Apesar dos números absolutos apontarem para um crescimento robusto temos que ter cautela, pois como demonstra o resultado por dia útil na comparação dos últimos meses, houve uma retração de 6,3%, em razão da antecipação dos feriados, fechamento do comércio e queda da massa salarial. Neste cenário de inúmeras incertezas, qualquer tipo de projeção de demanda do produto seria um exercício de futurologia sem nenhuma base confiável de dados."
PERSPECTIVAS
Os indicadores de confiança mantêm a perspectiva de piora desde o final de 2020. De acordo com estudos da Fundação Getúlio Vargas, os índices de confiança do consumidor (1), da construção e dos empresários (2) mantiveram a trajetória de queda devido ao recrudescimento da pandemia e ao aumento das restrições de mobilidade, trazendo sérios riscos ao emprego e a renda. Ademais, mesmo com a alta nos números de vagas de emprego com carteira assinada (3), o país continua registrando recorde nas taxas de desemprego (4) (14,2% em janeiro) principalmente afetando o trabalhador sem carteira assinada (trabalho informal), segundo o IBGE.
O novo auxílio emergencial que poderia colaborar para melhorar esse cenário é bem inferior (entre R$ 150,00 e R$375,00) do que o oferecido em 2020 – tanto em valor quanto em abrangência – e dessa forma, não será suficiente para reverter a retração drástica no poder de compra da população.
Esse ambiente deve impactar a cadeia de valor do cimento com a desaceleração do ritmo das reformas. Além disso, registrou-se o crescimento do número de obras imobiliárias paradas5, a majoração da taxa Selic e a expectativa de novos aumentos podem inibir a aquisição de imóveis.
Infraestrutura – Em 2011, a infraestrutura era responsável por 25% do consumo de cimento (6), ou seja, 16,2 milhões de toneladas. Atualmente, as estimativas do SNIC apontam que este segmento é responsável por cerca de 10% do consumo de cimento, ou seja, 5,3 milhões de toneladas.
A retomada dos leilões para concessões de aeroportos, rodovias, portos e ferrovias trouxe novos aportes para infraestrutura. Na semana passada, por ocasião da "Infra week" (7) investimentos privados chegam a R$ 10 bilhões e expectativa da geração de 200 mil empregos (diretos, indiretos e induzidos). No final deste mês será realizado o leilão da CEDAE, com expectativa de valor mínimo de outorga de R$ 10,6 bilhões e investimentos previstos de R$ 24,6 bilhões nos primeiros 12 anos da concessão e R$ 30 bilhões ao longo de todo o período. Trata-se, certamente, do mais emblemático movimento do saneamento brasileiro após a aprovação do seu novo marco regulatório.
Abril de 2021 marca a retomada dos investimentos em infraestrutura no país. É fundamental, portanto, que a campanha de vacinação e as reformas estruturantes sejam aceleradas para o reencontro do Brasil com o crescimento econômico sempre com a fundamental participação da indústria do cimento.