A cidade de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, vive a partir desta quarta-feira um lockdown para conter a propagação do coronavírus. As medidas mais rígidas adotadas pela prefeitura valem até domingo.
Neste primeiro dia de confinamento, as principais ruas da cidade estão quase vazias, incluindo as vias mais comerciais, relatam moradores. Conforme observam, são poucos os carros que circulam além das viaturas da Guarda Civil Metropolitana, encarregada da fiscalização.
Para reduzir o movimento, o decreto do município de mais de 710 mil habitantes tirou de circulação todos os ônibus e impediu até mesmo que supermercados e padarias recebam clientes. Esses locais só podem funcionar com serviços de delivery.
Na véspera, porém, nas suas últimas horas abertos, os mercados registraram filas de clientes ávidos por abastecer as casas. Assim que o anúncio da prefeitura foi feito, por volta das 11h da manhã de terça, o número de clientes disparou.
Dinah Amoras, moradora do bairro Jardim Irajá, estava fazendo compras em um supermercado bem na hora em que o prefeito Duarte Nogueira (PSDB) fez seu pronunciamento.
— Comecei a ver que as pessoas falavam no celular [sobre o lockdown], se benziam, e que os gerentes estavam sendo chamados para uma reunião pelo sistema de alto-falantes — lembra. — Do nada, o supermercado começou a encher. Fiquei desesperada e saí de lá — diz.
Quando deixou o estabelecimento, cerca de meia hora depois do aviso da prefeitura, havia uma fila de carros esperando para entrar.
— O estacionamento já estava lotado. Quando fui tirar meu carro, já tinha gente esperando para pegar minha vaga, e tinha aglomeração também no posto de gasolina — diz a cirurgiã-dentista aposentada, que conta ainda que o seu edifício está sem serviço de limpeza a partir desta quarta-feira.
Nos prédios, somente porteiros e seguranças podem ir ao trabalho, isso se tiverem como providenciar um transporte particular, já que o público está suspenso. As atividades dos demais profissionais, como os de manutenção, estão entre as vetadas pelo decreto.
Planos alterados
Na véspera do lockdown, as filas nos supermercados do entorno de casa também chamaram a atenção de Dalva Maria de Souza, que mora no bairro Ribeirânia.
— Vi a fila e retornei para casa. Estava realmente tenso — afirma a jornalista de 65 anos, que felizmente já tinha feito compras dias antes e, por isso, acredita que não terá falta de mantimentos para ela nem para a mãe, de 85 anos.
Nesta quarta-feira de manhã, ela só precisou abastecer o carro e não teve problemas para isso. Segundo ela, o posto de gasolina a poucas quadras de casa estava quase sem clientes. As calçadas da vizinhança, onde alguns costumam caminhar e praticar exercícios, também estavam vazias, conta. E, para as compras de farmácia, já solicitou uma entrega em casa.
Souza lamenta apenas que esteja sem seus óculos de grau. Os novos, encomendados em uma ótica da cidade depois que os antigos estragaram, não poderão ser entregues nos próximos dias. Até lá, o jeito vai ser usar algumas lentes de contato que estavam guardadas em casa.
— Não tem problema. Até desejo que o lockdown seja estendido, porque é o que nós precisamos agora — opina ela.
Ribeirão Preto está com 93,9% de seus leitos de UTI ocupados nesta quarta-feira. Os leitos de enfermaria estão com 90,3% de lotação. Ao menos três hospitais da cidade já atingiram a sua capacidade total nas UTIs: São Paulo, Santa Casa e o chamado Polo Covid, criado para atender a demanda adicional na pandemia.
Mais medidas
No estado de São Paulo, além de Ribeirão Preto, também entrou em lockdown nesta quarta a cidade de São José do Rio Preto. Por lá a medida vale até 31 de março, sendo que até o dia 21 as regras serão mais rígidas. Entre as normas, estão a venda apenas por delivery em supermercados e a suspensão do transporte coletivo.
A prefeitura de Rio Preto prevê ainda multa de R$ 1.250 para quem estiver circulando pelo município sem uma justificativa, como ir a um serviço de saúde, por exemplo. Já em Ribeirão, a administração afirma que as abordagens da guarda municipal aos transeuntes serão apenas para dar orientações.
Na região de Campinas, um lockdown também está sob avaliação conjunta dos 20 municípios do entorno. Até sexta eles devem decidir se adotarão normas mais rígidas.
Segundo o secretário de Desenvolvimento Regional do Estado de São Paulo, Marco Vinholi, cerca de 30 cidades paulistas já estão adotando medidas mais restritivas do que as da fase emergencial decretada pelo governo Doria. Pelo chamado Plano São Paulo, que dá as bases para o funcionamento da economia no estado durante a pandemia, as cidades, se quiserem, têm autonomia para implantar regras mais duras para o isolamento.