O Papai Noel ribeirinho anda sem complacência ou sem comiseração, ou talvez prefira provocar o distanciamento existente entre os brinquedos originalmente ribeirinhos e os brinquedos oriundos da sociedade contemporânea, cotidianamente anunciados pela linguagem persuasiva midiático – industrializada, responsável pela avassaladora inserção das crianças ao processo de globalização do comércio capitalista.
O Papai Noel ribeirinho tem nome, identidade e lugar: é a exímia capacidade de criação artesanal que brotam das mãos e da mente das crianças da floresta. Neste encantatório mundo mágico que fascina, elas não são subservientes à linguagem midiático – industrializada e conduzem com eficaz habilidade, o ato natural de pensar, de criar e de confeccionar seus próprios brinquedos, dinamizando naturalmente o seu espaço de lazer.
O Papai Noel metropolitano capitalista vive enleado ao engodo e persuasão, enquanto o Papai Noel ribeirinho vive no ser de cada criança, instigando-a à curiosa criação do rio e da mata.
A analogia entre ambos se torna cada vez mais interessante, a partir do momento em que um se estabelece à serviço da espoliação, do espúrio e do bizarro, enquanto o outro, desconhece todas essas estigmatizações e passa a descobrir em seu ser, uma divinal criatividade de sonhar pela imponente habilidade das próprias mãos.
O exímio Papai Noel ribeirinho é embelecido pela estesia da criança e pela radiante vontade de ser feliz. O ser da criança ribeirinha é o seu próprio Papai Noel, e ele não vem apenas de ano em ano, ele está lá durante todos os dias, criando e recriando, o lazer e a felicidade, através de seus brinquedos originais.
Se alguém por algum motivo, não quiser dar ou receber um feliz natal, basta navegar nas águas dos rios amazônicos, adentrar em suas coletividades ribeirinhas, que certamente, ele próprio se transformará na imagem de um natal feliz.
A descolonização das mentes europeizadas medievais, consiste no fato de saber que o Papai Noel ribeirinho é dotado de um espírito natalino que propaga o amor cristão, e está cotidianamente enraizado ao ser de cada criança, entranhada aprazivelmente nas águas e nas matas amazônicas do criador divino.
O nascimento de Jesus Cristo, seus ensinamentos, suas lições e sua vivência, continua sendo a de um ser benevolente e justo, que nos ensinou a amar e a combater as injustiças sociais oriundas das elites econômicas privilegiadas.
O Papai Noel ribeirinho que vive imbricado nas almas das crianças da floresta, vive feliz a saber, que mesmo não dispondo da indústria e do comércio de brinquedos, é possuidor da sagrada consciência, de que o menino Jesus está todos os dias brincando com elas.
Marquelino Santana é doutor em geografia, pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisas, Modos de Vida e Culturas Amazônicas – Gepcultura/Unir e pesquisador do grupo de pesquisa Percival Farquhar o maior empresário do Brasil: Territórios, Redes e Conflitos na Implantação da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM-RO) e na Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande (EFSPRG-PR/SC), da Universidade Estadual de Londrina e do grupo de pesquisa Geografia Política, Território, Poder e Conflito, também da Universidade Estadual de Londrina.