EXTREMA, Porto Velho – Não é de hoje que policiais militares fora de serviço são acusados de integrar milícias pagas por madeireiros, fazendeiros e grileiros ainda impunes na região da tríplice divisa dos estados com Acre, Rondônia e Amazonas.
A recente chacina no Seringal São Domingos, no Sul de Lábrea a 72 quilômetros de Acrelândia (AC), na divisa com o Distrito de Nova Califórnia, “expôs mais uma vez o lado cruel e brutal dos crimes de mando no campo entre os três Estados”, assinala ativista local.
No cenário desses crimes, a fonte aponta a participação de fazendeiros, grileiros e madeireiros bastante conhecidos da região da Ponta do Abunã e de Rio Branco, a capital acreana. “Nos fez lembrar o furto de madeiras da Reserva Mapinguari por madeireiros de Vista Alegre do Abunã, criação de bois piratas nas florestas e a grilagem em terras da União”.
A execução do agricultor Nemes Machado de Oliveira, 53 anos, com tiros nas costas e de mais três agricultores, além dos incêndios das propriedades das vítimas no Seringal São Domingos, a 500 quilômetros da cidade de Lábrea, “lembra, ainda, o modus operandi utilizado pelos pistoleiros alcunhados de “Zé do Brejo” (falecido), “O Sementinha” (vivo em Corumbiara) e o boliviano Mateus (O Paçoca) em outras execuções na Ponta do Abunã e Jacy-Paraná”, completou a fonte.
De igual modo, a participação de policiais do Destacamento sediado no distrito de Jacy-Paraná, a 90 quilômetros da Capital Porto Velho, volta a ser mencionado. As duas principais ex-serrarias de Extrema e Nova Califórnia (Santa Lúcia e São Pedro), em 2008-2010 foram objetos de denúncias feitas por “Rosa Sem Terra” em supostas extrações de madeira no lado amazonense onde atuava Gedeon, então, presidente do Asentamento do INCRA, na divisa de Califórnia com Lábrea.
– Gedeon foi brutalmente assassinado ao ser chamado ao portão de sua casa por um pistoleiro visto dias antes na “Pousada da Gaúcha”, em Extrema, a mesma fonte revelou ao NEWSRONDÔNIA.
Em linhas gerais, as milícias que atuam na polêmica região da Ponta do Abunã e do Distrito de Nova Califórnia com o Sul de Lábrea não seriam apenas contratadas por fazendeiros, madeiros e grileiros de terras. Além de policiais militares rondonienses, “prestam serviços a traficantes bolivianos e brasileiros no eixo Porto Velho, Rio Branco e Guajará-Mirim”, adiantou a fonte anônima.
É visível em toda região do Abunã a desenvoltura de policiais (fardados e à paisana) e supostos pistoleiros nas serrarias e grandes propriedades de Jacy-Paraná, Extrema, Nova Califórnia à Vista Alegre, no que bem define “os laços de cumplicidade entre agentes do Estado e o agronegócio bovino e madeireiro”, admitem acadêmicos filhos de posseiros locais da União.
Com participação ativa em casos de violência praticada contra agricultores e garimpeiros que habitam localidades ao longo dos rios Rio Madeira e Mamu (Bolívia), o pistoleiro Mateus (Paçoca), preso acusado de estar à frente da última chacina em Jacy-Paraná – mesmo algemado, empreendeu fuga espetacular sob escolta da PM – “essa figura fez serviços sujos para um grande e conhecido sojicultor, em Jacy-Paraná”.
E de crime em crime, “só quem continua rezando missa de sétimo dia a seus mortos indefesos são as famílias dos agricultores assassinados por pistoleiros ainda impunes”, lamentam as lideranças locais.
Ao tempo dessas ocorrências ainda não apuradas pelas Superintendências do INCRA do Acre, Rondônia e Amazonas, a tensão e o medo foram retomados pelos agricultores acossados por pistoleiros (guaxebas para sulistas), não só entre as 160 famílias do Seringal São Domingos, do Ramal da Torre, mas também no eixo Porto Velho, Canutama e Humaitá, ao longo da BR-319.
No Projeto de Assentamento Joana D’Arc, do quilômetro 4,5 ao 114, parte das fazendas e grandes propriedades erguidas em terras da União, sobretudo em áreas de reserva (Resex Cuniã e Campos Amazônicos) continuam toleradas pelo IBAMA, ICM-bio, INCRA e pelo governo do Estado do Amazonas.
– A maioria das terras é ocupada por policiais militares, políticos e fazendeiros rondonienses, depois que expulsaram a tiros e por meio de incêndios criminosos os nativos amazonenses, denunciam cabôcos dos rios Azul e Mucuim.
Além da extração ilegal de madeiras (Castanheira, Garapeira, Massaranduba, Angelim etc), furto de essências naturais (Copaíba, Andiroba, Pau-Rosa e Preciosa), a região viria sendo usada como uma espécie de desova de “drogas” lançadas por avionetas em pistas de pouso clandestinas – o ápice foi nos anos 2000 nos rios Azul, Mucuim e Açuã.
– A isso, as autoridades não prestam a atenção por não se arriscarem a não escutarem os alerta dados por nativos, sobretudo do quilômetro 42, à esquerda da primeira torre do posto desativado do IDARON, denunciavam seu Joãozinho dos Cachorros e Pedrino da Toyota.