Os olhos para as pistas de atletismo passam a fazer parte das rotinas da Olimpíada de Tóquio a partir desta quinta (29), às 21h (horário de Brasília) com provas de qualificação e eliminatórias. As primeiras medalhas saem na sexta (30). No entanto, a presença de atletas brasileiros entre vencedores é improvável.
Na avaliação do pesquisador carioca Fernando Franco, de 78 anos de idade, que é professor de educação física radicado em Brasília e que analisa desempenhos das participações dos competidores desde os jogos de 1992 (Barcelona), até mesmo o pódio deve ser "muito difícil".
"As chances são raras. Não costumam haver grandes surpresas. De um dia para o outro, um atleta não altera profundamente as suas marcas. A não ser que ocorra algo inesperado", avalia o professor. A exceção, no entender dele, é Alison dos Santos, nos 400 metros com barreira, que é o terceiro no ranking mundial.
Para chegar a essa conclusão "pessimista", ele traçou a biografia com o rendimento de 44 atletas nos últimos anos. Ao todo, foram convocados 53. Os outros nove competidores que não estão na lista de análise fazem parte de modalidades de grupos, como são as corridas de revezamento. "Aqueles que melhoraram suas marcas nos últimos anos não fizeram o suficiente para figurar entre os favoritos. Alguns deles, infelizmente, pioraram mais recentemente. Basta olhar a evolução no ranking. Em geral, houve queda", indica.
Entre os exemplos, ele cita que Paulo André de Oliveira (nos 100 m rasos) era, em 2019, o 28º do ranking, com a marca de 10.02 segundos, atingida em prova na Califórnia (Estados Unidos). Passados dois anos, o atleta foi para 43ª colocação, tendo feito 10.07 segundos, também nos EUA. Outro caso, para ilustrar, é o do Altobeli Santos da Silva que, em 2017, fez 8´23"67 (minutos) na prova de três mil metros com obstáculos, em torneio realizado no Marrocos. Em São Paulo, neste ano de 2021, o atleta fez 8´26"04 (minutos).
Chance de pódio
O professor avalia, no entanto, que a partir desses dados, seria possível guardar alguma esperança para Alison dos Santos, que compete nos 400 metros com barreiras. Conforme o professor buscou, o atleta tem diminuído o seu tempo na prova, ano após ano, o que o deixou em terceiro lugar no ranking mundial. Em 2016, ele fazia a prova em 55.32 segundos. Baixou para 53.82 (2017), 49.78 (2018), 48.28 (2019) e 47.34 (2021). "Na minha avaliação é o atleta com alguma chance de pódio".
Darlan Romani, no arremesso de peso, que tem sido apontado como esperança de medalha, caiu do quarto lugar no ranking (2019) para 12º. Caio Bonfim, na marcha atlética, que chegou a fazer a prova de 20 km em 1 hora, 18 minutos e 47 segundos, e era 12º no ranking, nos últimos dois anos, caiu para 28º com tempo na marca de uma hora e 20 minutos. No salto triplo, Almir dos Santos, que atingiu a marca de 17.23 metros em 2019, não foi além de 17.14 metros nos últimos dois anos. É o 14º lugar no ranking. No salto com vara, Thiago Braz, que já foi o quinto, com a marca de 5,92 metros, hoje é o oitavo. O colega Augusto Dutra, na mesma modalidade, passou de 12º em 2019 para 24º.
Entre as mulheres, estão mais bem ranqueadas Núbia Soares (6ª colocação) no salto triplo e Fernanda Martins, a 16ª no ranking do lançamento de disco. Érica Rocha de Sena, que era a oitava (em 2019) na marcha atlética, passou para 21ª colocação, mesmo com o tempo dela de prova não tendo variado mais do que dois segundos.
Fernando Franco acredita que os brasileiros têm chances relevantes de seguir para a final em provas de revezamento, no masculino, no feminino e no misto. "Mas medalha, acho muito complicado".
"Não tivemos uma melhora a ponto de nos credenciarmos como favoritos ao pódio. A formação de um medalhista costuma demorar muito tempo". Para ele, a pandemia pode ter influenciado a situação, mas o fato é que faltou aos atletas nacionais melhorarem expressivamente as suas marcas. "Temos instalações e precisamos estimular que mais atletas surjam das escolas, por exemplo".