Martin Scorsese nos brinda com mais uma obra-prima cinematográfica, não apenas em extensão, mas também em qualidade de roteiro. Este filme, escrito a quatro mãos com Eric Roth, marca uma colaboração icônica entre Scorsese e o renomado ator Robert De Niro, que é apoiado por ninguém menos que Leonardo DiCaprio em um papel de destaque. Contudo, é a atuação impressionante de Lily Gladstone, uma atriz indígena, que brilha intensamente na trama.
“Assassinos da Lua das Flores” é baseado no livro homônimo de David Grann e narra uma série de assassinatos que assolou a nação Osage, em Oklahoma, nos Estados Unidos, no início do século XX. Esses crimes não resolvidos foram o gatilho para a primeira grande investigação do Bureau Federal de Investigação (FBI).
DiCaprio assume o papel de Ernest Burkhart, um veterano da Primeira Guerra Mundial que chega à cidade de Fairfax, em Oklahoma, em busca de dinheiro e acaba sendo atraído pelo cenário complexo dos Osage. O povo Osage, após uma dolorosa introdução de Arkansas e Missouri devido a conflitos com outras comunidades, encontrou riquezas nas vastas reservas de petróleo em suas terras, tornando-se uma das nações mais ricas da época.
Contudo, onde há riqueza, a ganância se manifesta, e quando um grupo étnico “selvagem” acumula riqueza, os indivíduos brancos avançam em busca de lucro ou, até mesmo, para poderar-se de tudo. Nesse cenário, Robert De Niro assume o papel de William Hale, um homem que amealhou fortuna devido ao gado e à estreita relação com o povo Osage. O tio de Ernest, um agente, incentiva-o a casar-se com uma nativa Osage.
A trama se desenrola em torno do relacionamento de Ernest com Mollie (Gladstone), um personagem complexo e desconfiado. Mollie, sabe que muitos homens estão atrás de jovens nativos ricos para garantir uma vida confortável, casando-se com Ernest e seus filhos. O filme questiona se o amor de Ernest por Mollie é genuíno ou se a influência de suas ações, especialmente quando seu tio o instiga a se casar com ela.
Com uma duração de 3 horas e 26 minutos, “Assassinos da Lua das Flores” não é um obstáculo que impeça o público de se envolver na trama. As duas primeiras horas do filme passam rapidamente à medida que o mundo é construído e os assassinatos se entrelaçam com imagens de arquivo e fotos da comunidade Osage. O filme também contextualiza eventos históricos nos Estados Unidos, como o massacre em Tulsa, Oklahoma, no mesmo período, quando supremacistas brancos atacaram a comunidade de “Little Africa”.
O filme aborda o envolvimento da Ku Klux Klan no estado, explorando sua relação com os Osage e outros grupos étnicos. Esse aspecto muitas vezes esquecido da história é intrigante, pois destaca que o auge da Ku Klux Klan ocorreu entre 1890 e 1920, não se limitando apenas à população negra, mas afetando também os povos indígenas, mexicanos e asiáticos.
No entanto, as últimas duas horas e meia do filme podem parecer cansativas devido à introdução de detetives na narrativa. Uma cena impactante mostra o conselho dos Osage reunido para discutir as investigações, e um membro sugere que a “doença do homem branco” é a verdadeira causa de seus problemas.
A entrada do FBI na investigação é peculiar, pois não fica claro porque o órgão decide tomar o caso. No entanto, é considerado que os soldados que lutaram na Primeira Guerra Mundial foram recrutados para integrar essa nova divisão investigativa do governo.
O personagem de Robert De Niro é habilmente desenvolvido, retratando-o como alguém repugnante e profundamente preconceituoso, cuja malignidade se torna ainda mais evidente à medida que os assassinatos assolam a cidade.
Embora DiCaprio e De Niro ocupem a maior parte do tempo da tela, relegando as atrizes a papéis menores, algumas delas, como Lily Gladstone e Cara Jade Myers, oferecem atuações impactantes e memoráveis. Gladstone rouba a cena com sua interpretação de Mollie, mostrando sua evolução ao longo do filme, enquanto Myers surpreende ao interpretar a carismática irmã de Mollie, Anna Brown.
Na última análise, “Assassinos da Lua das Flores” é obra prima de Martin Scorsese, tratando a história com sensibilidade e respeito. O diretor colaborou com membros da comunidade Osage para adaptar a narrativa às telas. O filme oferece momentos visuais extraordinários, destacando-se uma cena que utiliza o fogo e suas ondas de calor para criar imagens deslumbrantes. Além disso, a atuação expressiva e excepcional de Lily Gladstone é um dos destaques do filme.
“Assassinos da Lua das Flores” também convida o público a refletir sobre a situação dos povos indígenas, não apenas nos Estados Unidos, mas em todo o mundo. A obra relembra os crimes cometidos contra essas comunidades e destaca a violência contínua que enfrentam. Este filme é uma lembrança impactante da história sangrenta associada à busca por riqueza e poder, independentemente do local ou da época.
Veredicto: “Assassinos da Lua das Flores” é uma obra prima de Martin Scorsese que combina uma narrativa complexa com atuações memoráveis e visuais deslumbrantes, oferecendo uma reflexão profunda sobre os desafios enfrentados pelos povos indígenas.