Na Aldeia Lapetania, na Terra Indígena Sete de Setembro, em Cacoal, o plantio de café robusta (Conilon) pelos Paiter Suruí é uma prática que já dura mais de 30 anos. O cultivo é um dos poucos legados positivos deixados pelos não indígenas, expulsos após a demarcação, em 1983. “Com a saída dos ‘brancos’, o café ficou, mas até lá foi muito difícil, pois não fazia parte da nossa cultura”, explica Neide Cardozo.
Até alcançar um café de excelência e premiado no Brasil, o fruto plantado pelos Suruís passou por várias etapas. Em 2018, foi contemplado pelo Grupo 3 Corações no Projeto Tribos, em conjunto com a Funai, Embrapa-RO, Câmara Setorial do Café, Emater-RO, Secretarias de Agricultura de Cacoal e Alta Floresta, além das cooperativas indígenas Garah, Itxá, Coopaiter, Doá Txatô e Coopsur. “Um marco que começou a nos abrir portas”, enaltece Celesty Suruí.
No Concurso de Qualidade e Sustentabilidade do Café (Concafé), o produto recebeu o Selo Matas de Rondônia pela melhoria dos grãos, o que impulsionou as exportações, com mais de 100 mil sacas enviadas para 13 países em 2023. Os Suruís orgulham-se de seus grãos sem agrotóxicos. “Estamos dentro do perfil chamado ‘etnodesenvolvimento’”, pontua o coordenador da Funai em Cacoal, Rubens Naraikoe Suruí.
O Café Sarikab, lançado na Rondônia Rural Show, nasceu para revolucionar o mercado da bebida. “Um sonho realizado”, declaram os irmãos Celesty, Marthan e Ubiratan Suruí.
Paytxayeb, uma jovem do povo Paiter Suruí, está escrevendo sua trajetória sem abandonar suas origens. A história do seu povo é o que a mantém imersa em um dos cenários indígenas mais resistentes de Rondônia.
Celesty tornou-se a primeira indígena barista do país pela Coffea Trips e, enquanto prepara o café, vai divulgando as histórias do povo Suruí. “Em 50 anos, nosso povo foi dizimado. De cinco mil, hoje somos 250 indígenas, e aproveitamos os espaços abertos para contar a nossa história”, finaliza.