Aparato militar internacional, três presidentes do Brasil (fora os da Itália e Bolívia), pronunciamentos de ministros de Estado… tudo devidamente coberto pela imprensa, tudo para prender o terrorista Cesare Battisti que teria participado da morte de 4 pessoas, na Itália, há quatro décadas.
Quanto custou tudo isso? E aqui não entro no mérito se ele devia ou não ser preso. Foi condenado, mesmo que à revelia, e que arque com as consequências de sua orientação política. Comunistas prendem capitalistas em prisões políticas e vice-versa. Vencidos e vencedores são a simplificação da história universal.
Estou falando da parafernália toda. Ora, se o descobriram na Bolívia, dois policiais o levariam à prisão na Itália… mas não! Foram deslocados pelo menos cinco aviões até Santa Cruz de la Sierra; na Itália um ministro o esperava no aeroporto e deu uma coletiva, policiais quiseram ser fotografados ao lado do distinto. Entendi o ar de deboche do preso! Foi algo meio Odorico Paraguassu.
Quanto ao Brasil… bom: Por que não fazem uma operação de guerra para uma limpa nos processos de corrupção que se arrastam há anos e que são um verdadeiro terrorismo contra a ordem pública e mata milhares de brasileiros de miséria e inanição existencial?
Quer crime maior do que o abandono da saúde pública, a decadência da educação e da cultura, da instituição de uma leva de bitolados que se equiparam a gado?!… tudo isso, como dizia um velho programa de humor, “é culpa do governo”. A cultura empobrecida – como nunca na história do país – traduz o sentimento cognitivo da sociedade cada dia mais amorfa e desesperada.
Os seguidos governos priorizam o status quo em vez de um rompimento radical deste modelo torpe. Culpa do PT? Ora, ora! PT fez governo de coalizão, uma cooperativa de malfeitores que iam (pasmem!) de PP (sucedâneo da Arena dos militares nos anos de chumbo) a MDB (a única oposição da Arena). É uma repetição de tudo com novos personagens apenas!
O governo precisa ser corrupto na marra – mesmo que não queira, e via de regra quer – ao fazer composições aéticas em nome da governabilidade e do pragmatismo político.
O mesmo empenho para transferir um condenado para a Itália deveria haver para passar o Brasil a limpo. Utopia minha. Ingenuidade boba de um interiorano. As condenações por aqui têm coloração ideológica. Sarney é um demônio e está por aí! ACM morreu, nunca foi preso, virou mito em vida na Bahia e deixou herdeiros de fortunas e modi operandi…
Vez ou outra há um bode-expiatório! Um boi-de-piranha! Mas, o certo seria ter uma instância judicial específica para julgar todos os políticos ou então garantir anistia geral, limpar a pauta, para traçar um novo modelo daqui para frente, inclusive proibindo candidaturas de todos os que já exerceram cargos eletivos.
Temos que parar com essa onda de sermos justiceiros! Esse negócio de prender um, dois, dez… usando uma máquina do Estado que custa infinitamente mais cara que o produto do roubo.
Atuação da justiça, do governo, da polícia… tudo tem sido pontual e seletivo, sem conexão com a antropologia do Brasil. Ainda temos até resquícios de escravidão. Havendo ainda o cativeiro, de que lado você estaria? Dos abolicionistas ou dos escravocratas? A indagação pode parecer estranha e démodé, mas análoga à realidade atual e está na ordem do dia. Tudo é ideológico! Ontem e hoje!
As decisões ainda são tomadas dentro da casa-grande. Ainda temos capitães-do-mato e também a Guarda Nacional nos mesmos moldes do Brasil Império, entretanto, agora com um véu de democracia – que só funciona, na real, quando há acessibilidade de todos à ciência e à informação. Caso contrário, é dissimulação!
Somos um País campeão. O maior público mundial do Big Brother, a maior torcida de futebol, a maior festa popular, segundo maior público do Facebook… mas, nenhum prêmio Nobel! Entre os que menos lêem, um País de corruptores e de corruptos…
O parlamento brasileiro foi criado para satisfazer interesses da aristocracia fundiária do Brasil. E o que mudou? O povo está representado? Quais as maiores bancadas e quais as suas pautas? O conservadorismo, o latifúndio, as negociatas, os conchavos entre os poderes constituídos sustentam toda a agenda em detrimento das reais demandas sociais. Povo é só um detalhe neste teatro todo!
O Brasil precisa, vez ou outra, de um Cesare Battisti para distrair a opinião pública e, enquanto o tempo passa, “está tudo como dantes no quartel d’Abrantes”.
Júlio Olivar