Ao completar dois anos e cinco meses, o terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva revela uma faceta recorrente nos governos de coalizão brasileiros como: a instabilidade ministerial como reflexo da política de acordos; disputas internas e, por vezes, das próprias contradições de um projeto de poder que tenta equilibrar ideologia, pragmatismo e governabilidade.
O terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, iniciado em janeiro de 2023, tem sido marcado por diminuição em políticas sociais como o corte de milhões do “bolsa família”, “pé de meia estudantil” e tantos outros programas de políticas afirmativas, por rearticulação diplomática no mundo, mas também por instabilidade ministerial. Até o início de maio de 2025, dez ministros deixaram seus cargos, refletindo tanto disputas políticas internas quanto desafios administrativos e éticos enfrentados pelo Palácio do Planalto.
As trocas ministeriais revelam um governo perdido em sua própria armadilha, num constante processo de reconfiguração, pressionado por coalizões partidárias e pela necessidade de manter uma base sólida no Congresso Nacional.
Algumas saídas de ministros ocorreram por motivos políticos, outras por escândalos, ascensão de cargos ao Judiciário e por envolvimento em corrupção. Nesse dia 2 de maio o Brasil assistiu a décima queda de um ministro acusado de saber dos fatos, não tomar as medidas necessárias e ainda endossou descontos indevidos dos contracheques dos aposentados, com envolvimento aos sindicatos.
1º Caso – O general Gonçalves Dias ligado a Lula desde os tempos de Planalto no início dos anos 2000, caiu após as imagens do 8 de janeiro colocarem em xeque a credibilidade do Gabinete de Segurança Institucional. A demissão não foi apenas administrativa, selou o fim da participação de militares no núcleo de confiança do presidente. A saída expôs fragilidades na segurança presidencial e abriu a sequência de mudanças no primeiro escalão.
2º Caso – Em julho do mesmo ano, foi a vez de Daniela Carneiro (Turismo) deixou o governo após perder apoio interno no União Brasil. Sua saída marcou a primeira substituição por pressão política, abrindo espaço para Celso Sabino.
3º Caso – Ana Moser uma das poucas representantes do esporte com trajetória autêntica, foi substituída em setembro pelo então ministro do Esporte André Fufuca, do PP, como parte de um acordo e arranjo para ampliar o apoio do centrão a base do governo no congresso. Da mesma forma, a saída de Daniela Carneiro e a ascensão de Celso Sabino revelaram que, no Brasil, alianças partidárias muitas vezes pesam mais do que currículos.
4º Caso – Houve também a realocação de alguns ministros, como Márcio França, então titular dos Portos e Aeroportos, deixou o cargo em setembro de 2023 para assumir o novo Ministério da Micro e Pequena Empresa — movimento interpretado como tentativa de acomodar interesses do PSB e criar espaços para aliados sem ampliar o número total de ministérios. E há os que subiram, como Flávio Dino, cuja ida ao STF foi celebrada como vitória política e institucional pelo Planalto.
5º Caso – A saída de Flávio Dino em fevereiro de 2024 foi planejada: o então ministro da Justiça e Segurança Pública assumiu uma cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF), consolidando a influência do governo na Corte, mas deixando um vácuo em uma das pastas mais sensíveis.
Quanto as crises Éticas e Políticas, temos os casos de Paulo Pimenta, Silvio Almeida, Nísia Trindade e Juscelino Filho reacenderam críticas à condução política do governo.
6º Caso – Paulo Pimenta, chefe da Secretaria de Comunicação Social, deixou o cargo em janeiro de 2024 para assumir o Ministério Extraordinário pela Reconstrução do Rio Grande do Sul, após as enchentes que devastaram o estado.
Até aqui todas as saídas foram suaves.
7º Caso – Silvio Almeida, ministro dos direitos humanos e da cidadania, foi exonerado em setembro de 2024 após denúncias de assédio sexual um dos rostos mais respeitados do primeiro escalão, caiu após denúncias graves de assédio. Embora negue as acusações, sua exoneração foi imediata, visando proteger a imagem do governo.
8º Caso – Nísia Trindade, Ministra da Saúde, símbolo da retomada das políticas públicas em saúde, foi exonerada por motivos ainda pouco transparentes. Símbolo da gestão da pandemia e das políticas de saúde pública, foi substituída por Alexandre Padilha em abril de 2025 por decisão direta de Lula, gerando especulações sobre discordâncias internas quanto à condução de políticas sanitárias.
9º Caso – No mesmo mês, Juscelino Filho, o ministro das Comunicações renunciou em meio a acusações de corrupção envolvendo o uso indevido de verbas parlamentares, um escândalo que respingou em outros integrantes do Republicanos. Juscelino Filho não resistiu à pressão das denúncias de corrupção. A imagem que fica é a de um governo que se ajusta às pressas, às vezes tarde demais.
10º Caso – no dia 2 de maio, Carlos Lupi, ministro da previdência, pede demissão após ser fritado pelo governo Lula quanto ao desvio de 6 bilhões descontados ilegalmente dos contracheques dos aposentados.
As trocas ministeriais são vistas por especialistas como reflexo da complexa engenharia política que passa o atual governo, sem ter de onde tirar mais dinheiro, o governo precisa equilibrar compromissos programáticos com acordos partidários.
Apesar das baixas, o governo ainda conta com uma pequena parcela de políticos que trocam seus apoios em trocas de vantagens, muito embora precise reforçar constantemente alianças para avançar em pautas que andam patinando nas casas de lei.
O governo tenta manter a governabilidade em um cenário de polarização e chantagens parlamentares. As trocas refletem o custo de liderar uma coalizão ampla.
Com a proximidade das eleições do ano que vem 2026, novas mudanças no primeiro escalão não estão descartadas. O desafio do governo será manter a coesão interna e evitar o desgaste que possa levar para uma, duas ou mais CPIs, como o “escândalo do INSS”.
O futuro é incerto para um governo que já começou mal, podendo trazer novas crises na República Tupiniquim.