Diante de um público de discentes e docentes da Universidade Federal de Rondônia (Unir), o poeta ribeirinho, nascido em Itacoã, vilarejo do Baixo Madeira, Elizeu Braga descreveu, por meio de suas poesias, a própria raiz existencial. Parafraseando um trecho de Mormaço, que inclusive dá nome ao seu livro lançado em 2017, Braga usou a poesia para se apresentar aos jovens.
Poesia: livro Mormaço
“Mormaço na flor, mormaço na pele, mormaço nos olhos daquela senhora que anda para cima e para baixo com sua filha encaixada no colo. Mormaço na fila dobrando a esquina da Caixa Econômica.
O olhar que se perde numa lembrança de nem sei o quê. Lá para o rumo do Norte, o troço é bem forte. Dizem que somos terceiro mundo: mal-educados, malfalados, esquentados, os criadores de casos e sem memória.
Dizem que nossa cidade é de todos, só para a gente acreditar que ela é de ninguém.”
No bate-papo, que aconteceu por volta das 17h30 de quarta-feira (16), no auditório da Biblioteca Professor Roberto Duarte Pires, na BR-364, km 9,5, o poeta Elizeu Braga foi o convidado especial do evento que marcou a reinauguração do clube de contos “Escrevivências”, articulado pelo Centro Acadêmico de Letras e Inglês Conceição Evaristo, ligado à Diretoria do Núcleo de Ciências Humanas (DNCH) do campus da Universidade Federal de Rondônia.
Diante dos discentes e docentes, o poeta debateu o processo que utiliza para escrever seus poemas. “A essência é estar imerso para poder escrever.”
Do Baixo Madeira, região de Porto Velho, Braga traz de suas vivências experiências que aplica na escrita — o que já resultou em três grandes obras marcantes: Cantigas (2015), Mormaço (2017), além de outras que o poeta vem desenvolvendo e deverá publicar em breve.
Para Braga, a vida no Baixo Madeira começou cedo, ao se ver diante de um dilema familiar, no qual precisou ir morar com uma tia-avó em Porto Velho, deixando para trás o local onde nasceu — mas que, segundo o poeta, jamais sairá dele: “Parte de mim está por lá.”
Aos discentes, o poeta foi claro ao trazer sua experiência com a leitura como base para a arte de escrever. “Um escritor necessariamente precisa gostar de ler, tem que ser um bom observador das coisas, amante do silêncio — afinal, o silêncio ajuda a criar”, explica.
A roda de conversa foi finalizada com perguntas dos estudantes direcionadas a um dos poetas mais viscerais e genuinamente porto-velhenses.