Uma simulação laboratorial da Nasa, a agência espacial norte-americana, confirma uma previsão de 60 anos, de que o Sol é uma fonte dos componentes que compõem a água presente na Lua.
Segundo a teoria, quando um fluxo de partículas carregadas, conhecido como vento solar, atinge a superfície lunar, desencadeia uma reação química que pode gerar moléculas de água, informou nessa terça-feira (15) a agência Europa Press.
A descoberta, escreveram os investigadores em artigo publicado na revista JGR Planets, tem implicações para as operações dos astronautas no Polo Sul lunar, no programa Artemis da Nasa.
Acredita-se que grande parte da água da Lua, um recurso crucial para a exploração, está congelada em regiões permanentemente à sombra dos pólos.
“O mais interessante é que, com apenas solo lunar e um bloco de construção do Sol, que está sempre a libertar hidrogênio, existe a possibilidade de criar água”, destacou Li Hsia Yeo, investigadora do Centro de Voos Espaciais Goddard da Nasa em Greenbelt, Maryland, citada em comunicado.
O vento solar flui constantemente do Sol. É composto principalmente por prótons, que são núcleos de átomos de hidrogênio que perderam os seus elétrons.
Viajando a mais de 1 milhão de quilômetros por hora, o vento solar banha todo o sistema solar. Evidências disso são registradas na Terra quando ela ilumina o céu com as famosas auroras boreal ou austral.
Medições de sondas espaciais já sugeriram que o vento solar é o principal responsável pela formação de água, ou dos seus componentes, na superfície lunar.
Uma pista importante, confirmada pela experiência da equipe de Yeo: a assinatura espectral da Lua está relacionada com as mudanças na água ao longo do dia.
Em algumas regiões, é mais intensa nas manhãs mais frias e enfraquece à medida que a superfície aquece, provavelmente porque as moléculas de água e hidrogênio se movem ou escapam para o espaço.
À medida que a superfície arrefece novamente à noite, o sinal atinge o seu pico. Esse ciclo diário indica uma fonte ativa — provavelmente o vento solar — que reabastece pequenas quantidades de água na Lua todos os dias.
Para testar isso, Yeo e o seu colega, Jason McLain, um cientista investigador da Nasa Goddard, construíram um aparelho para examinar as amostras lunares da Apollo.
Pela primeira vez, o dispositivo acolheu todos os componentes da experiência no seu interior: um dispositivo de feixe de partículas solares, uma câmara sem ar simulando o ambiente lunar e um detector de moléculas.
A invenção permitiu aos investigadores evitar ter de retirar a amostra da câmara, como ocorreu em outras experiências, e expô-la à contaminação da água no ar.
Utilizando pó de duas amostras diferentes recolhidas na Lua pelos astronautas da Apollo 17 da Nasa, em 1972, Yeo e os colegas assaram primeiro as amostras para remover qualquer possível água que pudessem ter recolhido entre o armazenamento hermético na Instalação de Preservação de Amostras Espaciais da Nasa, no Centro Espacial Johnson, em Houston, e o laboratório Goddard.
Em seguida, usaram um pequeno acelerador de partículas para bombardear o pó com vento solar simulado durante vários dias – o equivalente a 80 mil anos na Lua, com base na elevada dose de partículas utilizada.
Utilizaram um detector chamado espectômetro para medir a quantidade de luz refletida pelas moléculas de poeira, o que mostrou como a composição química das amostras mudou ao longo do tempo.
Por fim, a equipe observou uma diminuição do sinal de luz refletido do seu detector, precisamente no ponto da região infravermelha do espectro eletromagnético (cerca de 3 mícrons) onde a água normalmente absorve energia, deixando um sinal revelador.