O mês de março trouxe um susto para os brasileiros ao fazer dois itens essenciais da alimentação ficarem significativamente mais caros: o tomate e o ovo. De acordo com o IBGE, o tomate apresentou uma elevação de 22% em relação a fevereiro, enquanto os ovos registraram a quarta alta consecutiva, subindo 13%.
No acumulado do ano, o tomate já encarece 53%, e os ovos, 31%. Mas afinal, por que esses alimentos básicos dispararam de preço? Veja os principais fatores a seguir:
Redução no cultivo e baixa produtividade explicam alta do tomate
De acordo com João Paulo Deleo, pesquisador do Cepea-Esalq/USP, muitos produtores de tomate abandonaram o plantio entre meados de 2024 e o início de 2025. O motivo? Os preços pagos aos agricultores estavam muito baixos, o que causou desestímulo e até dificuldades financeiras para parte dos produtores.
Além disso, a maior parte da safra de verão foi antecipada, sendo comercializada entre outubro e novembro, o que reduziu a disponibilidade da fruta para os meses seguintes. Para completar, a produtividade — ou seja, a quantidade colhida por hectare — caiu a partir de fevereiro.
“A safra de verão está no fim, e a de inverno ainda começa de forma lenta e com rendimento limitado em algumas regiões. Isso deve manter a oferta enxuta e os preços elevados por mais algum tempo”, explica Deleo. A expectativa é de que a situação comece a melhorar apenas a partir de junho, com o avanço da safra de inverno.
Ovo caro: custos de produção, calor e exportações pressionam o mercado
Desde dezembro de 2024, o preço dos ovos tem subido de forma contínua. Entre os principais fatores está o aumento nos custos de produção. O milho, base da alimentação das aves, ficou 30% mais caro entre julho e fevereiro. As embalagens também tiveram uma elevação expressiva, com aumento de mais de 100% em oito meses, segundo o Instituto Ovos Brasil.
Outro fator de peso foi o calor intenso registrado entre o final de 2024 e o começo de 2025. Com as altas temperaturas, as galinhas consomem menos ração, o que compromete a produção de ovos.
Além disso, o período da Quaresma, que antecede a Páscoa, impulsiona a demanda por ovos, já que muitos católicos reduzem o consumo de carne vermelha.
Mas há ainda uma questão internacional: as exportações de ovos brasileiros para os Estados Unidos explodiram nos primeiros meses do ano. Foram 2.705 toneladas embarcadas entre janeiro e março, um aumento de 346,4% em relação ao mesmo período de 2024, segundo a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal). Isso se deu por conta de um surto de gripe aviária nos EUA, que afetou fortemente a produção local.
Apesar da alta nas exportações, o presidente da ABPA, Ricardo Santin, afirma que a oferta no mercado interno segue sendo atendida, já que os embarques ainda representam apenas 1% da produção nacional.