A subcultura dos chamados incels (sigla em inglês para “celibatários involuntários”) tem se espalhado por diferentes plataformas digitais e preocupa autoridades em todo o mundo, inclusive no Brasil. O termo, que surgiu nos anos 1990, designa homens que afirmam não conseguir se relacionar afetiva ou sexualmente com mulheres, e que canalizam essa frustração em discursos de ódio, principalmente misóginos.
Membros dessa comunidade costumam se reunir em fóruns e redes sociais, onde compartilham conteúdos que responsabilizam as mulheres por suas dificuldades amorosas. Esses espaços virtuais, integrados ao que especialistas chamam de “machosfera”, propagam ideologias hipermasculinas e extremistas. Termos como redpill e blackpill são comuns nesses grupos — o primeiro indicando um “despertar” para a suposta realidade da desigualdade sexual, e o segundo, uma versão mais radicalizada, que normaliza discursos violentos.
Segundo a cientista política B.C., que pesquisou interações incel em grupos brasileiros no Telegram, esses ambientes funcionam como espaços de validação entre jovens com dificuldades de socialização. Muitos dos participantes são adolescentes em busca de pertencimento, o que os torna vulneráveis à ideologia do grupo. Ela destaca que a misoginia nesses espaços atinge desde mulheres feministas até as que defendem visões mais conservadoras.
O movimento incel brasileiro é influenciado por vertentes estrangeiras, especialmente dos EUA, e se aproxima ideologicamente da extrema direita. Relatórios oficiais já classificaram essas comunidades como fontes relevantes de discurso de ódio e alerta para seu potencial de radicalização violenta.
Além do conteúdo agressivo, os fóruns incels oferecem pouca abertura para apoio emocional saudável. Estudos internacionais mostram que muitos dos seus membros enfrentam transtornos mentais como depressão, ansiedade e solidão. Pesquisadores defendem que o enfrentamento desse fenômeno deve ir além do combate ao extremismo, e incluir apoio psicológico direcionado, especialmente para adolescentes do sexo masculino.
Especialistas também sugerem a criação de espaços alternativos onde homens possam discutir relacionamentos, frustrações e autoestima sem serem expostos a ideologias tóxicas. A ausência de iniciativas específicas no Brasil para lidar com o fenômeno incel ainda é um ponto de atenção, segundo análises recentes.