No Dia Nacional dos Povos Indígenas, os originários do Brasil ainda lutam para ter direito a própria existência. No país com o maior número “etnias” do mundo, existir até o presente perfaz um caminho doloroso da resistência. “No ano passado assistimos horrorizados à tentativa de genocídio do Povo Yanomami. O governo agiu prontamente, atuando em duas frentes. Realizamos ações emergenciais. Instalamos a Casa de Governo, em Boa Vista para promover a saúde”, declara a primeira-ministra dos Povos Indígenas Sônia Guajajara no pronunciamento lançado nas redes sociais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em Rondônia, a luta dos povos indígenas também passa por diversos obstáculos. Em campo com os invasores, madeireiros ilegais e grileiros. As interferências também partem dos agentes públicos. Em 2018, parlamentares votaram pelo fim da Reserva Estadual Soldado da Borracha. Além disso, os deputados engatilhavam a extinção de outras dez Resex. A medida só não foi para frente por conta de uma ação de inconstitucionalidade do Ministério Público Estadual (MPE) e Tribunal de Justiça (TJ-RO).
Na Resex de Jaci Paraná, os povos originários pedem a retirada imediata dos invasores que atentam contra a terra pública. Lutar contra invasores que ainda acreditam estar vivendo no cenário da ‘colonização’, tem recorrido a um embate diário para os indígenas de Rondônia.

Aqui, como em outras partes do país, buscar pelo próprio direito tem sido uma ousadia capaz de custar a vida. Ari Uru-Eu-Wau-Wau tornou-se a vítima mais recente nesse conflito para invadir territórios indígenas. No dia, 15 de abril, o assassino do indígena do Povo Jupaú foi condenado a 18 anos de prisão. O crime com comprovações banais, colocou Rondônia na lista perigosa para indígenas. Mas pelas lutas, o estado também desponta com grandes nomes indígenas.

Em 2021, a rondoniense e indígena Txai Suruí (Walela Soet Xeige) discursando na COP-26, revelou o flagelo por qual passava a Floresta Amazônica e seus povos. O discurso necessário para a época mostrou ao mundo o negacionismo com o meio ambiente no governo do ex-presidente Jair Bolsoanaro.
A estudante de Direito, hoje é apontada com uma das maiores vozes para o meio ambiente. Do cenário de tragédias para as salas de cinema. Os crimes ambientais na Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau e Sete de Setembro reportaram Rondônia na pele da Amazônia durante o governo bolsonarista. Com o documentário O Território, os indígenas conquistaram o direito a fala e foram responsáveis pelo primeiro Emmy Internacional no estado e no globo.
Festejar essas conquistas é cedo demais, principalmente em um Brasil que o respeito ao ‘ser’ indígena convive com vários preconceitos, sejam os antigos e os atuais. Para a ativista, guardiã, ambientalista e indigenista Ivaneide Cardozo coordenadora da Associação Etnoambiental Kanindé, comemorar o Dia dos Povos Originários ainda é um momento que passa pela demarcação das suas terras.
“O que garante a identidade a vida para os povos originários é a demarcação dos seus territórios. Se faz necessário e urgente que sejam tirados todos os invasores dos territórios. Que o governo federal demarque a terra dos indígenas que ainda não tem terra demarcada e que, também tirem os grileiros de dentro dessas terras. É importante que o governo promova o desenvolvimento sustentável em todas elas. Para nós, de Rondônia é importante que retirem os invasores das terras (Uru-Eu-Wau-Wau, do Território Sete de Setembro, da Karipuna) e de outras”, finaliza Neidinha.