Débora Brito
DF – A Polícia Ambiental do Distrito Federal busca há cinco dias uma cobra desaparecida em um prédio do bairro de Águas Claras, em Brasília. A serpente é uma jiboia arco-íris e apareceu no quarto de um adolescente de 16 anos enquanto ele estudava, no 23º andar do prédio.
JIBÓIA ARCO-IRIS DA AMAZÔNIA – Imagem Ilustrativa
Os policiais foram chamados na última quinta-feira (11) e desde então mantém uma equipe 24 horas de plantão no prédio para tentar capturar a cobra, que pertencia a um morador do 28º andar do prédio. O rapaz não tinha autorização legal para manter um animal silvestre em ambiente doméstico.
Segundo a polícia, a cobra se deslocou de um apartamento para outro por meio de dutos da estrutura hidráulica que tem saída no banheiro e pode ter fugido pelo mesmo local. Depois de analisar a estrutura hidráulica e elétrica do prédio, a polícia instalou armadilhas entre o 15º e o 26º andares para atrair a cobra. Para a polícia, o réptil ainda está na estrutura hidráulica ou nas paredes, que são de drywall (placas de gesso impermeáveis).
“A probabilidade de ela estar no prédio é quase 100%, e a gente recomenda, apesar de ser um animal dócil, não capturar, nem encurralar. Recomendamos que isole o local em que ela estiver, fecha a porta do quarto, ou da sala, e de imediato ligue para a gente”, disse o comandante do Batalhão de Polícia Militar Ambiental, major José Gabriel de Souza Júnior.
O major explicou que a serpente tem 1,5m de comprimento, pode viver até 30 anos, não é venenosa e mata por constricção (aperta e sufoca a vítima). Apesar de não ser venenosa, o major alerta que a mordida da jiboia também pode causar infecção séria devido à alta carga de bactérias. Ela era criada no apartamento há um ano e meio, alimentada por ratos congelados e convivia com dois cachorros na mesma residência e não há relato de nenhum ataque da cobra.
O rapaz que criava a cobra vai responder por crime ambiental previsto na Lei 9605, por manter em cativeiro ou depósito animal silvestre sem a devida permissão da autoridade competente. A penalidade criminal é de detenção de seis meses a um ano ou multa de R$ 500,00 a R$ 5 mil.
A polícia ambiental fez o termo circunstanciado de ocorrência do dono da serpente e acionou o Ministério Público, que pode chamar o rapaz para que ele justifique por que mantinha o animal sem licença e em desacordo com a lei. Ele pode ainda cumprir pena alternativa de prestação de serviços à comunidade.
A polícia teve que impedir que moradores agredissem o dono da cobra. E, caso a serpente apareça, a equipe da portaria do prédio recebeu material de contenção e foi treinada para contê-la até a chegada dos policiais. “Em uma eventualidade, eles podem conter a serpente e chamar nossa equipe, que vai lá para fazer o resgate da melhor forma possível. Sendo resgatada, a jiboia será enviada para o Cetas, que é o Centro de Triagem de Animais Silvestres”, informou Souza Júnior.
O comandante lembra que ocorreu outro caso inusitado como esse em Águas Claras, em 2012, quando uma cornsnake (cobra-do-milho) ficou desaparecida em um prédio por sete dias.
A JIBÓIA
As Jiboias (espécie Boa constrictor, Linnaeus 1758) são répteis da Ordem Squamata e estão incluídas na família Boidae, conhecida por ser a família das serpentes constritoras, e existem cerca de onze subespécies descritas na literatura. No Brasil são encontradas apenas duas subespécies de jiboia: a Boa constrictor constrictor e a Boa constrictor amaralis e são encontradas nos biomas: Floresta Amazônica, Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica. O nome popular Jiboia originou-se do Tupi-guarani, yi´mboya, e estas serpentes podem chegar a quatro metros de comprimento, porém é comum crescerem em média até dois metros. Elas possuem o corpo cilíndrico e ligeiramente comprimido nas laterais, evidenciando uma forte musculatura constritora.
Ao contrário do imaginário popular, as jiboias não são cobras peçonhentas, ou seja, não possuem presa inoculadora de veneno. Elas não são naturalmente agressivas ao homem, pelo contrário, estas cobras geralmente evitam a presença humana. Quando se sentem ameaçadas ou acuadas é que as jiboias se colocam em posição de defesa e pode expirar o ar dos pulmões com força produzindo um ruído característico, conhecido como “o bafo da jiboia”, que não é tóxico e nem causa manchas na pele do homem. Algumas vezes esta tática de defesa também inclui uma mordida por parte da serpente, porém é importante destacar que as jiboias estão apenas se defendendo e não procuram o homem para atacá-lo.
As jiboias desenvolvem suas atividades no período da noite, mas podem ser encontradas ativas durante o dia quando estão procurando abrigo ou alimento. Geralmente estas cobras possuem hábitos arborícolas e terrestres e se deslocam de forma lenta pelo substrato. Algumas jiboias também podem ter hábitos subaquáticos.
Sua dieta é carnívora e constituída por pequenos mamíferos (como roedores e morcegos), aves, anfíbios e lagartos. O bote é a estratégia adotada pelas jiboias para capturar suas presas em potencial. Ela enrosca a presa sobre o seu corpo, comprimindo-a com a sua musculatura corporal até que a presa morra por asfixia. Em seguida, a presa é engolida inteira pela jiboia que, dependendo do tamanho da presa, pode demorar até seis dias para realizar completamente a digestão.
São cobras vivíparas, ou seja, os embriões se desenvolvem todo dentro das fêmeas, e podem gerar até 64 filhotes numa mesma gestação que dura de 5 a 8 meses. As jiboias são serpentes que vivem solitárias e apenas durante o período reprodutivo que tendem a se agrupar para gerar a prole. Esta espécie é poligâmica, ou seja, um mesmo macho cruza com diversas fêmeas (Isaza et al. 1993; Bertona & Chiaraviglio 2003).
O interesse comercial por estes animais como pets tem aumentado consideravelmente nos últimos anos. Apenas nos Estados Unidos da América (EUA) mais de 18 milhões de pessoas criam serpentes e dentre as espécies compradas para este fim é a jiboia (Das & Banerjee 2004). Quando criadas desde o nascimento em cativeiro, a jiboia geralmente apresenta um comportamento pacífico, podendo chegar a pesar 40 kg e podem viver aproximadamente por 30 anos. É importante lembrar que ao adquirir um animal silvestre é preciso que o local de compra seja licenciado pelo órgão regulamentador responsável, pois a compra de animais sem procedência legal contribui com o tráfico ilegal de animais e afeta de forma negativa a biodiversidade.
FONTE- INFOESCOLA
Por Camila Oliveira da Cruz
Mestre em Ecologia (UERJ, 2016)
Graduada em Ciências Biológicas (UFF, 2013