A conversa mudou o tom, as falas de região. De Rondônia ao Amazonas os políticos só falam em uma coisa: a reconstrução da rodovia Porto Velho-Manaus, a polêmica BR-319. O antes contrário Amazonas, agora levanta a bandeira e até bate panela em apoio. O chefe do Executivo, enxerga a rodovia como o fim da crise amazonense, mas contra ele tem os pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), que pontuam o aumento dos crimes ambientais ao longo da estrada.
O problema é que nem sempre o comercial em torno da rodovia teve essa malemolência toda. Até 2009, os amazonenses não fundamentavam nenhum tipo de interesse acerca da pista e se questionados, não saberiam da existência de Rondônia ao lado deles.

Um dos maiores exemplos? O ex-ministro de Minas e Energia e ex-governador, Eduardo Braga. Foi ele quem se posicionou contrário para a instalação do (Gasoduto Urucu-Coari-Porto Velho), proposta pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2001. Em Brasília, teve senador declarando que as “mortes por Covid-19 em solo amazonense, estariam associadas a falta de acesso total pela rodovia”.

Anos mais tarde, políticos brigam para tornar a 319 trafegável de Porto Velho a Manaus. O problema é que querer e poder, até o momento, não foram suficientes para derrubar a tese de viabilidade da obra.

Quatro presidentes passaram e nada. Nem mesmo o mais temível deles para o meio ambiente, o governo Bolsonaro conseguiu. O caso retornou para as mãos da ministra de Estado do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, de volta ao governo Lula. Por conta disso, Marina é constantemente atacada por parlamentares que a acusam de barrar a tão polemica obra.
Durante audiência na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das ONGs, a ministra, foi questionada pelo presidente da Comissão, o senador Plínio Valério (PSDB-AM), que entre as acusações mais absurdas, disse que Marina atuava para interferir na reconstrução.
Ao fazer uma analogia do tempo, Silva, recordou o político amazonense que até o atual retorno dela ao Ministério, já se vão 15 anos, tendo em vista que deixou a pasta em 2008. “O estado do Amazonas teve ministro dos Transportes, tem senadores, deputados federais, teve até um vice-presidente, e durante esses 15 anos a estrada não foi feita? Depois de 15 anos dizer que a estrada não foi feita porque fui eu que não dei a licença?”, responde.
Da viabilidade da obra para a região, Marina falou que “entende a importância do acesso, mas que os (projetos não apontam para a segurança ambiental e viabilidade econômica)”, pontua.
Quanto a pressão que tem sofrido por parte de políticos e empresários, a acreana teme que essa ação conjunta, tenha por trás, um plano de continuação dos crimes ambientais, com o desmatamento em torno dos 400 quilômetros daquilo que hoje é uma floresta intocada.
“A estrada, não foi feita porque é uma estrada difícil, não prova a sua viabilidade econômica, viabilidade social. Não tenho dúvida que as pessoas querem o direito de ir vir, mas a viabilidade econômica e ambiental? A não ser que seja par converter as áreas de mais de 400 quilômetros de floresta virgem em outro tipo de atividade”, lançou o prognostico.
Para Marina, a reconstrução da BR-319 não se mostra viável ambientalmente e economicamente. “Socialmente, a gente entende, agora ambientalmente e economicamente não tem viabilidade. Não se faz uma estrada de 400 quilômetros no meio de floresta virgem apenas para passear de carro”, suspeita.