Desde de quando foram expulsas dos seringais bolivianos do Departamento de Pando com a Ascenção de Evo Morales ao poder, aproximadamente 40 famílias que residiam no rio Mamu, foram assentadas no Programa de Assentamento Wálter Arce – a partir de 2013 – no Município de Bujari no Estado do Acre.
Sem nenhuma assistência do Governo federal, algumas famílias não conseguiram êxito, outras, porém, resistiram como puderam: cavaram poços, construíram casas, farinheiras, galinheiros e fizeram plantios de mandioca, café e banana, na incansável luta pela sobrevivência e na construção de novos modos de vida.
A ineficiência e a falta de austeridade em políticas públicas impedem o surgimento de paradigmas que resgate a dignidade e a decência. No assentamento Wálter Arce os brasivianos do rio Mamu resistem a um truculento descalabro de atrocidades que deteriora valores, aniquila a emancipação, extermina o imaginário, fere a cidadania, afugenta saberes e escamoteia a realidade.
Eles também tiveram que arcar com todas as dificuldades para poderem permanecer na terra. Não receberam nenhum benefício para edificarem suas casas e inicialmente construíram pequenos barracos de palha improvisados para se alojarem. Aos poucos, eles foram construindo suas casas, mas os primeiros meses no assentamento foram de angústia para todas as famílias assentadas.
Os seringais do Mamu foram submetidos a um estado de balbúrdia e belicosidade, enquanto isso as áreas diplomáticas dos dois países agiam como que abdicando ao seu papel constitucional, conduzindo ações abaçanadas e apáticas e contribuindo de forma negligente para que os ribeirinhos da Amazônia boliviana fossem definitivamente alijados daquele território fronteiriço.
Francisco de Souza Queiróz, brasiviano do seringal Providência do rio Mamu, nos disse que foram feitas várias promessas para o assentamento, mas não cumpriram nada. Ele nos conta que vivia num mundo e agora está vivendo em outro e para conseguir água, tiveram que cavar o próprio poço. Diante de todos esses atropelos e visivelmente emocionado, Francisco ainda encontra forças para falar e desabafa: – “Pelo menos não estou morando no quintal dos outros”.
Asfixiados do desdém de uma exclusão social e execrados da terra mãe que os alojou, os seringueiros tornaram-se atrelados a um porto de passagem que tinha o imaculado berçário florestal como ponto de partida e o cadafalso humano como ponto final.
Nessa passagem antagônica do dadivoso ao caos, muitos caíram na postergação e acabaram renunciando à pertinácia pela terra. Agora, os brasivianos, estão lutando para se adequarem à novos modos de vida.