Era uma vez um harmonioso mundo – embelecido pela mata virgem e de natureza estesiante – que no seu imensurável deslumbramento, adormecia e acordava na sua mais sublime generosidade planetária.
Nesse esplendor divino e colossal, as populações originárias e tradicionais da Amazônia Sul – Ocidental brasileira, cuidava de forma briosa e impoluta desse suntuoso berço florestal, mas a mácula da sociedade envolvente reacionária culminou odiosamente na fúnebre derrocada da volúpia da vida.
Na contemplação devaneante dos sentidos, o homem e a terra entrelaçavam-se com complacência e virtuosidade, e nessa prodigiosa maviosidade, a natureza inefável, exaltava-se como uma dádiva iniludível da humanidade. De forma desmesurada e na magnitude resplandecente da alma, os guardiães da floresta continuavam relutantes e obstinados na defesa empática do seu encantatório espaço de ação. Mas a viscosidade desse mundo cosmopolita e transcendental de seus guardiães começou a tomar um rumo fútil e abrasador, culminando com a bisbórria arrogante e desprezível de atos burlescos que provocava a destruição desenfreada do homem e a terra.
O heterotópico e simbólico mundo original entrou no mais profundo deletério do desalojamento de almas, proporcionando a dor e a deploração inevitável da vida. A descomedida e desditosa raiva humana contaminou a benevolência planetária e promoveu a empáfia e soberba da sociedade envolvente, que de forma exacerbada condenou a terra a descansar na sombra dos velórios florestais.
Marquelino Santana é doutor em geografia, pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisas, Modos de Vida e Culturas Amazônicas – Gepcultura/Unir e pesquisador do grupo de pesquisa Geografia Política, Território, Poder e Conflito da Universidade Estadual de Londrina.