Na tarde desta quinta-feira 15 de junho, passei por uma situação bem inusitada que até agora não caiu a ficha. Primeiramente, quero agradecer ao senhor Carlos que se apresentou como sendo o “dono da Estrada de Ferro Madeira Mamoré”. Confesso que vivi para conhecer o real dono da lendária EFMM que tantas histórias deixou.
A referida pessoa que se apresentou como sendo o proprietário da EFMM, na verdade se trata do responsável pela empresa Amazon Fort Soluções Ambientais e Serviços de Engenharia Ltda. Essa empresa ganhou o processo licitatório no decorrente ano para administrar o complexo ferroviário por 10 anos.
Vamos aos fatos. Como estou montando a minha autobiografia, eu e minha equipe resolvemos fazer algumas tomadas de imagens na EFMM para adicionar ao documentário.
Chegando ao local, pensei com quem deveria falar para obter a autorização. Liguei para um amigo pedindo sugestão e o mesmo disse que em 10 minutos chegaria ao local com 15 professores, acompanhados com a secretária municipal de educação e que eu poderia entrar com a equipe.
Assim fizemos. A comitiva chegou em uma van e com ela entrei acompanhado dos professores. Aproveitei e comecei a fazer as imagens ali mesmo, próximos de todos. Não entramos nos galpões, nem tão pouco fizemos imagens da parte interna, até porque não me interessava.
De repente, passa por mim um senhor com o rosto de poucos amigos, indo em direção onde estava a secretária e os professores. Na volta, me abordou perguntando com quem estava acompanhado. Disse que estaria com a equipe.
Fui informado pelo mesmo que NÃO poderia estar ali, pois o complexo ferroviário não estava aberto ao público ainda. Argumentei dizendo que estava colhendo imagens para a minha autobiografia e que as mesmas não iriam para a internet. Disse ao mesmo que ainda levaria um bom tempo para completar o documentário.
Esse senhor que se diz ser o “dono da EFMM” foi extremamente ríspido com a minha pessoa, inclusive não deixando eu se apresentar. Mesmo assim, informei ao mesmo dizendo-lhe: “sou professor, historiador e escritor, filho desta terra. Meu pai cortou dormentes para a EFMM em 1959 e que minha mãe teria nascida no Km 13,5. Eu inclusive nasci no hospital São José”.
Aproveitei e perguntei-lhe de qual estado era. Como resposta, disse que era de Rondônia, depois afirmou que chegou aqui em 1984.
Tá vendo! eu sou daqui você não.
Disse ao mesmo que há anos venho fazendo trabalho de Educação Patrimonial com alunos de escolas públicas naquele complexo, e que ao invés de coloca-me para fora do ambiente, deveria ser parceiro em prol da conservação e proteção daquele monumento. Que deveríamos unir forças e tocar o projeto.
Disse-lhe ainda que a internet está cheia de imagens de pessoas que já visitaram o local com a desculpas de “Visita Técnica”. Quando na realidade, as fotos que foram parar nas redes sociais, NÃO apresenta nenhum engenheiro, muito menos especialista no assunto ferroviário.
Em nenhum momento o referido senhor quis saber com quem estava falando. Não pediu a minha credencial e nem fez questão. Senti um ar de arrogância e prepotência quando o mesmo se intitulava ser “o dono da EFMM”, ou pelos simples fatos de administrar o complexo.
Depois de 23 anos acordando aos domingos para ministrar aula com meus alunos na EFMM, fazendo o percurso a pé de Porto Velho a Santo Antônio, transmitindo a história dos nossos pioneiros e desbravadores, fui literalmente barrado por alguém que não sei de onde saiu e muito menos a sua história.
Meu encantamento pelo abandono da EFMM já era crítico, agora piorou de vez. Mesmo assim, deixo uma pergunta:
Porque algumas pessoas podem visitar o complexo da EFMM, fazer vídeos, tirar fotos, fazer lives e outros não? Inclusive fazer evento político. Eu que sou historiador há 23 anos, tendo dezenas de livros e artigos publicados em prol dos nossos patrimônios, e que há anos venho defendendo, fui literalmente enxotado daquilo que ajudei a defender e a conservar.
Mesmo sendo filho desta terra, me senti como estrangeiro dentro da minha própria cidade, um forasteiro que foi expulso de um patrimônio que há anos venho lutando em prol de sua defesa, conservação e manutenção.
Eu sei que o complexo foi dado a concessão para uma empresa privada, porém o ambiente ainda é de domínio público.
Certa vez Silvia Teles disse: “O passado só tem sentido se nele estamos a ver o futuro”. Se o futuro é política, talvez acertaram.