Autor: Emerson Barbosa
A grande preocupação em torno do que poderia ocorrer com a terra em que viveu até a sua morte, o indígena Tanaru, também conhecido como o ‘índio do buraco’, em Rondônia, era justamente a invasão dela por parte de fazendeiros. Há décadas, a área é ambicionada por um grupo deles e só não virou pasto para o gado por conta da presença do indígena e do empenho de indigenistas e alguns poucos órgãos públicos.
Mas com sua morte, o local virou alvo dessa possível tragedia contra a floresta Amazônica. É tanto que uma das preocupações das instituições, como o Ministério Público Federal (MPF-RO) era justamente enterrar o indígena no local onde viveu até o final da sua vida, desta maneira dificultando a possibilidade de invasões por grileiros, fazendeiros e colonos ilegais.
Mas uma denúncia trazida no domingo (29), pela Folha de SP, revelou a previsão e acionou de imediato os poderes fiscalizadores. Horas após o sepultamento do indígena Tanaru, a sua sepultura, localizada no interior da palhoça em que vivia e, inclusive no mesmo local encontrado morto, em agosto de 2022, foi invadida por homens.
Os invasores foram flagrados por câmeras acopladas pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FNPI), próximas ao mausoléu de Tanaru. Os equipamentos estão posicionados no local, justamente para identificar possíveis ocorrências de crime contra os restos mortais daquele que foi considerado o último sobrevivente da sua etnia por 26 anos.
Na imagem cedida pela Fundação, dois homens caminham ao redor da choupana, um deles chega a colocar a cabeça para dentro. A FNPI, aponta os indivíduos como se tratando de fazendeiros locais.
Chama atenção para a ousadia dos criminosos que poucas horas após o sepultamento, ocorrido na manhã do dia [04 de novembro] de 2022, estiveram no local onde a visitação pública e proibida pelo governo federal, sem a devida autorização.
Segundo representantes da Fundação Nacional dos Povos Indígenas, a invasão pelos fazendeiros aconteceu por volta das 14h. “Um está de chapéu e outro de boné, um deles com um facão na cintura e por vezes surge com o aparelho celular na mão”, diz um trecho da reportagem de Folha.
A as imagens estão sendo avaliadas e a investigação já está em curso. Até agosto de 2022, Tanaru era considerado o último da sua etnia todos dizimados entre os anos de 80 e 90. Por cerca de 26 anos, o indígena foi acompanhado por indigenistas. Recusou incansavelmente o contato humano, o que o caracterizava como uma pessoa hostil.
A sua morte aconteceu em agosto do ano passado, segundo laudo pericial, Tanaru morreu em virtude de causas naturais. Do seu falecimento até o sepultamento foram longos dois meses, isso após uma decisão do MPF-RO que acionou a Justiça Federal.
Na época, o antigo presidente da Funai alegou que não caberia ao órgão realizar o processo fúnebre, mas tal alegação foi rejeitada, cabendo ao órgão providenciar o sepultamento.