Autor: Marquelino Santana
A admirável e fabulosa floresta amazônica aloja com dignidade os seus entes originais e tradicionais de um lugar celebrado pela obstinada força da resistência humana.
As almas do lugar não desejam alojar o fatídico e farsante mundo da sociedade envolvente, mas infelizmente, continuam sendo vítimas de ações externas que mobilizam uma predatória concentração de capital no sentido de desalojar essas almas e ao mesmo tempo provocar o encurralamento do seu espaço vivido da forma mais violentadora possível.
Homem, cultura, língua e lugar, constituem dessa forma um milenar conjunto de saberes e fazeres ancestrais, visivelmente condenado a um gólgota de ódio, terror e medo. Esse conjunto de valores vem sendo a cada século e a cada década, submetido de maneira atroz à hostilização degradante da vida.
Se é dever do poder público estancar o ecocídio, e se é um direito constitucional não se adotar o mais cruel etnocídio, deve ser também um dever das novas gerações quebrar velhos estereótipos históricos e adotar novos paradigmas, estabelecendo novas alternativas de sobrevivência que ofereça ao homem e a natureza uma relação de paz e dignidade que nos leve a trilhar os caminhos do bem viver.
Se a ignobilidade humana não prevalecer, se a natureza não se tornar palco de estratagema, se a união não cair em desregramento eterno, e se o lugar das populações originárias e tradicionais da Amazônia não for mais ameaçado, quem sabe um dia, a paz volte a reinar na casa da verde mata.
Marquelino Santana é doutor em geografia, pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisas, Modos de Vida e Culturas Amazônicas – Gepcultura/Unir e pesquisador do grupo de pesquisa Geografia Política, Território, Poder e Conflito da Universidade Estadual de Londrina.