Autor: Marquelino Santana
Entranhada à essência divinizante da terra, a família em devaneio viaja de forma fascinante na dimensão social da vida e no imaginário privilegiado de sua substância ontológica transcendental.
Nessa celebração e exaltação dos sentidos, o lar de fecundíssimo útero divinal, apropria-se de suas peculiaridades estetizantes para poder caminhar livremente, e na viscosidade de sua exuberância cósmica, conseguir com virtuosidade, conquistar a hombridade e a honrosa manifestação de viver com dignidade.
Mas o aprazível e harmonioso lar na sua briosa generosidade, precisa enfrentar o aviltamento opróbrio do mundo, no intuito de evitar a sua própria derrocada. Dessa forma, o relutante e prodigioso lar, segue de forma impoluta e obstinada, lutando contra o dilaceramento dos laços familiares e contra a escabrosidade alcantilada da marginalização social excludente.
No soberbo dissabor da agrura humana, a família é afrontosamente afugentada do bem-estar social. Os seus modos de vida são de forma aversa ceifados, a exuberância cósmica da alma é arrebatada pelo ódio, e a memória coletiva cosmogônica é arbitrariamente cessada pelo descalabro do desregramento público aterrorizante.
O útero da terra mãe brotou o mais inefável jardim. O jardim não fora irrigado de forma justa e benevolente pela humanidade, enquanto isso a mesma terra que o criou, acabou matando e comendo as suas flores enclausuradas.
Marquelino Santana é doutor em geografia, pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisas, Modos de Vida e Culturas Amazônicas – Gepcultura/Unir e pesquisador do grupo de pesquisa Geografia Política, Território, Poder e Conflito da Universidade Estadual de Londrina.