Autor: Marquelino Santana
O aviltamento exacerbado da saga humana. A abominação e abrutamento de seus atos, a escabrosidade dos velórios florestais e a insolência do crime em ascensão, são aspectos clarividentes da aversão ao ecoequilíbrio ambiental planetário.
O seringal tombou arrebatado pelo ódio profundo, o varadouro transformou-se em estrada de extração mineral, as estradas de seringa foram substituídas por imensas dunas de brita, enquanto o comboio tornou-se obsoleto e parou de transportar as cargas da castanha ou as famosas pélas de borracha natural da Amazônia Sul – Ocidental brasileira.
Os efeitos das dinamites resultaram em profundos açudes artificiais, os ribeirinhos esmaeceram ao verem cobertores de peixes envenenados, agonizando sobre os leitos fúnebres dos rios, enquanto os pulmões das coletividades absorviam o venenoso pó que os devoravam sem compaixão.
De cima para baixo o veneno transformou árvores seculares em pó, o fogo abrasador avançou tenebrosamente de forma funesta, enquanto a mácula humana nefasta e execrável, alimentava os restos mortais com sementes que mais tarde transformaria de maneira perniciosa a paisagem natural da terra mãe em lutulência.
Mas as ações sórdida e repulsiva da mão humana foram além da desonra e do aviltamento, e a repressão injuriosa e lúgubre, resultou num aniquilamento deplorável e injusto do advento do ecocídio e de um estarrecido “mar’ de areia em plena floresta amazônica.
Megalópoles foram erguidas onde antes eram rios caudalosos, das hidrelétricas restaram as suas ruinas, o útero da terra mãe secou e perdeu a sua divinal fertilidade, enquanto a Amazônia famélica passou a clamar por pão no apogeu abrasador do deserto.
Marquelino Santana é doutor em geografia, pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisas, Modos de Vida e Culturas Amazônicas – Gepcultura/UNIR e pesquisador do grupo de pesquisa Geografia Política, Território, Poder e Conflito da Universidade Estadual de Londrina – UEL.