Autor: Emerson Barbosa
Diante dos olhares de professores, estudantes, jornalistas e membros de entidades não governamentais do país e também de fora dele, a ativista indígena do povo Paiter, Txai Suruí (Walelasoetxeige), 25 anos, não poupou criticas ao governo brasileiro quando questionada da condição atual dos povos indígenas. “Os povos indígenas nunca sofreram tantos ataques, inclusive por via do legislativo em que temos esses projetos que mais podemos chama-los de projetos de destruição, que querem acabar com os nossos territórios, permitir a mineração e que já trazem impactos muito grandes”.
Ao descrever o cenário, Txai menciona o povo Yanomami de Roraima e Amazonas que vem tendo sua terra devastada por garimpeiros, além disso, índios em situação de vulnerabilidade alimentar. “Crianças morrendo de desnutrição, as mulheres estão sendo estupradas para ter comida”, registra.
Txai foi apresentada no evento da PUC “com uma das mais expressivas e carismáticas personalidades no ativismo pela causa indígena e pelos direitos humanos, e sua presença tem se expandido para além das fronteiras nacionais, posicionando-a numa rede mundial de ativismo ecoambiental”.
As invasões por grileiros no Território 7 de Setembro em Rondônia também foram reveladas por Txai durante a entrevista ao “Diálogos Fundasp”, promovido pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC).
A jovem ativista que ficou conhecida em todo o mundo após o discurso em Glashow na Suécia, diante de presidentes de diversas partes do mundo, menos Bolsonaro, emocionou-se ao lembrar do aniversário da morte de Ari-Uru-Eu Wau Wau, assassinado em 2020 durante uma emboscada. “Fez dois anos que o meu amigo, que cresceu comigo foi assassinado e que até hoje a gente não tem resposta. Até hoje, a gente sofre a consequência da perda não só de um guardião da floresta, de um defensor do seu território, mas de uma pessoa que era professor que deixou dois filhos, que deixou toda uma comunidade, que deixou amigos”, lamenta.
Ao abordar o tema genocídio dos povos indígenas, Txai continua enaltecendo o próprio discurso feito em Glashow, em novembro de 2021. “Me lembro até hoje, duas semanas depois que o Bolsonaro foi eleito, a Aldeia 623 foi invadida. Houve uma grande invasão onde eles (invasores) atiravam na placa de demarcação da Funai em direção a aldeia e diziam que iriam matar as crianças. Fomos até lá e ouvimos do grupo que a terra agora era deles, porque o Bolsonaro iria dar essa terra. Estamos sofrendo um ataque, um genocídio por parte do governo federal e desse Congresso," atribui.
Dos ataques sofridos nas redes sociais após o discurso em Glashow, Txai Suruí disse que resolveu contra-atacar de forma diferente, mostrando para aqueles que o atacavam, os chamados “halteres”, o que de fato ocorriam no seu território em Rondônia. “Só em uma parte do Uru-Eu-Wau-Wau (terra indígena invada) tem mais de 6 mil cabeças de gado. Hoje para os povos indígenas, principalmente as mídias, os celulares são instrumentos importantíssimos para gente denunciar aquilo que não aparece na mídia tradição”, situa.
O filme o Território (The Territóry), do cineasta norte-americano, Alex Pritz, vencedor de quatro grandes prêmios internacionais mostra de maneira autentica a luta dos povos Uru-Eu-Wau-Wau contra os crimes ambientais em seu território, localizado em Rondônia, estado marcado pela invasão e grilagem de terras indígenas. “É partir dai que os povos indígenas tomam a própria narrativa, deixando de serem vistos pelo olhar do colonizador e passando a gente mesmo a contar aquilo que vem ocorrendo dentro dos nossos territórios”, interpreta.