O cemitério não é um estado de invisibilidade, e muito menos um lugar de usurpação de identidades póstumas.
Conceituar o cemitério como o lugar dos mortos da sociedade dos vivos, é no mínimo aceitar a perda de sentimento e pertencimento do imaginário familiar e coletivo do espaço vivido, entrelaçado aos mundos material e imaterial dos entes humanos.
Nas subjetividades da alma familiar não há cisão ou ruptura espiritual com o mundo cosmogônico do cemitério, e nesta gama de complexidades do ato de viver, há uma ontológica e topofílica relação entre os fenômenos da vida e da morte.
O mundo simbólico e axiológico da morte, continua imbricado na alma do ser do ente, e, portanto, o cemitério na perspectiva de lugar sagrado, tornou-se uma representação transcendental e uma presentificação divinizada deste mundo vivido.
O axioma heterotópico do cemitério precisa sobreviver sem anátema ou estereótipos, na sensibilidade e percepção da vida em comunhão.
As memórias póstumas continuam embrenhadas e apropriadas ao nosso ser, e este mundo simbólico – transcendental, como síntese expressa do sentimento humano, continua vivo no nosso imaginário, fazendo com que lágrimas e risos se misturem, e possam de forma sagrada e imaculada, descrever, como é tão generoso e benevolente, o nosso Deus.
Marquelino Santana é doutor em geografia, pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisas, Modos de Vida e Culturas Amazônicas – Gepcultura/Unir e pesquisador do grupo de pesquisa Percival Farquhar o maior empresário do Brasil: Territórios, Redes e Conflitos na Implantação da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM-RO) e na Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande (EFSPRG-PR/SC), da Universidade Estadual de Londrina e do grupo de pesquisa Geografia Política, Território, Poder e Conflito, também da Universidade Estadual de Londrina.