Policiais militares e bombeiros descem as escadas de um badalado bar, próximo à Avenida Rio Madeira em Porto Velho. Um homem surge, seria o dono da boate. Numa conversa rápida com um policial, ele nega a presença de pessoas por ali.
As buscas são prosseguidas. Os fiscais vasculham cada milímetro do ambiente. Não demora muito para que a equipe descobrisse uma dezena de jovens, amontoados, escondidos no interior da boate. Eles estão agachados para não levantar suspeita. Uma voz questiona. “Olha eles estão ali… Estão todos amontoados” Onde? Pergunta um fiscal: “ali, ali juntinhos”, confirma.
Seria uma espécie de esconderijo para despistar a fiscalização. “Devagar, devagar. Tá todo mundo liberado (sic)”, diz um policial.
Alguns ainda deixam o local com copos de bebidas. Outros encobrem os rostos. Não querem ser reconhecidos, porém sabem o erro que estão cometendo. “Estamos curtindo um pouco. Não tem nada a ver. É tudo rápido, nem dá pra pegar o vírus”, argumenta uma garota flagrada.
O depoimento é de uma universitária que estava entre os beberrões. Mas ao contrário do que a acadêmica declara, o novo coronavírus (SarS-CoV-2) ainda está longe de desaparecer em Rondônia, da Região Norte, do Brasil, do Planeta. No Estado, os registros não param de subir, assim como as mortes. De domingo (14) para segunda (15), 46 pessoas morreram vítimas da Covid-19, elevando os [óbitos para 2.533], desde o início da pandemia, em março de 2020 em Rondônia.
Festas clandestinas repetem um ciclo perigo em Porto Velho. Elas são objetos de disputa entre os jovens que pagam caro para estarem na aglomeração.
“Essas festas são repassadas via WhatsApp. E por meio do aplicativo, eles os (donos eventos) vendem os passaportes e não são baratos. De forma irresponsável, essas pessoas vão para esses locais, mesmo sabendo que estão hoje cometendo um crime contra a saúde pública”, lembra um policial que participa das operações de fiscalização.
A imagem gravada pelos fiscais mostra o perfil dos aglomeradores. São garotas e homens na faixa etária de 19 a 23 anos, e senhores de idade já avançada. A irresponsabilidade não tem idade para uma sociedade que passa por cima do Decreto governamental. São pessoas que não respeitam se quer a própria vida, ignorantes com diploma. Desde o início de janeiro está terminantemente proibido fazer aglomerações, abrir bares, boates, balneários, casas de shows, e alugar clubes para festas particulares. Entre outras, também é obrigatório o distanciamento social, e o uso da máscara em qualquer lugar público.
O aumento de casos e a falta de leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) forçou o Governo a endurecer as medidas restritivas. Desde o último sábado (13), todos os municípios regrediram para a chamada fase – 1, a mais rígida do Decreto de restrição, assinado pelo governador Marcos Rocha (sem partido).
Um especialista da área de saúde ouvido pela reportagem não acredita que a medida esteja surtindo o efeito esperado e mais uma vez ele critica as ações do Palácio Pacaás Novos.
“O governo está brincando de assinar decretos, pelo menos essa a impressão de quem está de fora. De um lado o governo estadual tenta resolver, mas do outro, o próprio governo destrói as obrigações que imprimem ao povo. Esses desrespeitos ocorrem porque o Governo do Estado está dando margem para que isso ocorra. Não puniu quando deveria e abriu guarda quando não se deveria. É comprovado por toda a imprensa a irresponsabilidade, que o governo tenta jogar para outros. De fato, os casos da doença estão aumentando, a porta dos hospitais, as sirenes das ambulâncias refletem a tragédia que tem tudo para mostrar o seu verdadeiro ápice, logo mais quando as linhagens do novo coronavírus começarem a infectar com mais severidade. Só não enxerga que não quer. Ao meu ver o governo precisa punir com rigor quem for flagrado infringido a Lei dos Decretos”, explica um virologista do hospital Cemetron que prefere manter o anonimato.
Em um vídeo publicado na rede social WhatsApp, o Secretário de Estado da Saúde (Sesau) questiona a atitude das pessoas que em plena pandemia colaboram para aumentar o caos na saúde.
“Um batalhão está neste momento trabalhando na linha de frente contra a Covid-19 nos hospitais. Enquanto isso eu estou aqui recebendo um monte de vídeos de pessoas aglomerando em festas, sem usar máscara”, lamenta.