Aproximadamente 511 quilômetros separam as capitais de Rondônia, Porto Velho e do Acre, Rio Branco, no Norte do brasileiro. Neste momento em que a pandemia da Covid-19 alastra e ganha força em todo o país, a mesma distancia que separa essas duas capitais que juntas somam em torno de 2,5 milhões de habitantes as fazem unidas. A ignorância dos seus moradores que insistem em descumprir os cuidados exigidos pelos decretos governamentais contra o novo coronavírus.
Rio Branco, segunda-feira (08), 5h da tarde. Em frente ao Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), referência no tratamento da Covid-19, familiares buscam por respostas dos parentes internados. Em pouco tempo, os nomes de quem está do lado de fora da unidade são chamados. Inicia uma espécie de angustia. Em questão de segundos ouve-se choros, murmúrios.
No intervalo de segunda e terça-feira (09), Rondônia registrou 98 óbitos, e um total de 4.289 novos registros da infecção, causada pelo coronavírus (Sars-CoV-2), que vem ampliando suas vítimas aliado as suas variantes.
O microempresário (Aderson), de 22 anos não tinha comorbidades. Internado para se tratar da Covid-19, o rapaz não resistiu morreu na segunda. “Vivemos um luto forçado. Como podemos imaginar a partida de alguém tão jovem e justamente por conta de vírus? Ao mesmo tempo em que dói bastante na alma, isso é muito revoltante”, lamenta um parente da vítima.
As medidas tomadas pelo governo de Rondônia e os prefeitos já não são suficientes para atenuar a crise hospitalar causada pela doença. As UTI superlotadas refletem o caos na saúde pública. Até a terça-feira, 136 pacientes aguardavam um leito de UTI. “Esses são justamente os sinais que a população deveria já ter enxergado. Todos os dias milhares de notícias dão conta do problema da doença em Rondônia. Mesmo assim, a impressão é que os moradores estão ignorando uma doença que já se mostrou letal”, reflete a dona de Casa Dalva de Souza.
De volta a Rio Branco. Ali há poucos metros do (Into),mas precisamente no [Parque do Tucumã] um casal se alonga para dar início a caminhada. Eles não usam máscaras, mesmo sabendo da obrigatoriedade imposta no decreto assinado pelo governador Gladson Cameli (sem partido). Informado das mortes no Estado e o motivo pelo qual o casal não estava usando máscara, o homem responde com ironia. “Tem que me preocupar, é? Eu não tenho essa preocupação não, beleza”?
Situação como está é apenas um exemplo da falta de “empatia”, seja do morador rio-branquense ou o porto-velhense. Pessoas que se negam mesmo diante de tantas mortes enxergarem a gravidade do problema. A falta de cuidado com a própria saúde reflete nos hospitais públicos lotados. As UPA, Unidades Básicas de Saúde, os grandes hospitais públicos ou particulares já não comportam mais a quantidade de pessoas que chegam a todo instante.
No boletim extraordinário, divulgado nesta quarta-feira (10), pela Fundação Oswaldo Cruz mostra que as taxas de leitos de UTI em 25 das 27 capitais brasileiras beiram os 80%. Em 15 delas, onde configura Porto Velho os percentuais superam os 90%.
Em meio ao cenário perverso trazido pelo novo coronavírus estão os Cavalcantes, os Silvas, os Oliveiras, entre outros. Sobrenomes, nomes, pessoas que deixaram abruptamente seus lares para tornarem números frente a uma estatística de saúde pública que tem fôlego para piorar.