Uma pesquisa a respeito das hepatites tem revolucionado os estudos voltados à virologia. O projeto “Caracterização Molecular das Hepatites Virais na População Indígena, Amazônia Ocidental, Brasil” desenvolvido com fomento da Fundação de Amparo ao Desenvolvimento das Ações Científicas e Tecnológicas e a Pesquisa (Fapero), por meio de recurso do Pro-Rondônia, permite enxergar as diversas vertentes da doença e seu comportamento na população indígena, visando identificar os motivos da grande incidência de hepatite na região norte do país.
Projeto liderado pela doutora em biologia e pesquisadora em saúde pública, Deusilene Souza Vieira Dallacqua, também responsável pelo Laboratório de Virologia Molecular e vice coordenadora de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz Rondônia (Fundação Oswaldo Cruz), está em desenvolvimento há aproximadamente 12 anos com a população indígena, com colaboração do doutor Juan Miguel Villalobos Salcedo, médico e pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz RO, responsável pela equipe clínica do projeto. O trabalho com essa população iniciou no formato voluntário, com a colaboração do Distrito de Saúde Indígena (DSEI).
As coletas permitiram identificar a diferença das hepatites na população indígena e população geral, sendo dois tipos endêmicos na região, B e Delta, onde este segundo é muito agressivo na população geral, com evolução de cirrose e hepatocarcinoma celular. Na população indígena, observou-se comportamento diferente, sem evolução drástica, onde são difíceis os casos de evolução para fibrose ou hepatocarcinoma.
Segundo Deusilene, atualmente há 7,377 mil portadores crônicos cadastrados no Ambulatório de Hepatites Virais do Centro de Pesquisa em Medicina Tropical (Cepem), alguns desses em acompanhamento ou tratamento dependendo da evolução da doença. Com isso, o estudo tornou-se um projeto de pesquisa, com aprovação do Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi) e Conselho Nacional de Ética e Pesquisa (Conep), e com submissão e aprovação no edital do Pro-Rondônia, para investimento de R$ 250 mil (pesquisa e bolsas para o pesquisador, via Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes), recurso que contempla: projeto de doutorado que está avaliando a caracterização molecular da hepatite Delta em relação a carga viral, mutação, resistência e polimorfismo nessa população; trabalho de mestrado apresentando polimorfismos (alterações no gene da população indígena), que pode caracterizar um comportamento diferente dessa não evolução; bolsas para quatro alunos de iniciação científica, que trabalharam para amplificar o genoma completo do vírus Delta, avaliação de mutações e filogenia (origem do vírus); e um estudo epidemiológico, já publicado.